O design do activismo: Extinction Rebellion já está no museu Victoria & Albert

Conceituado museu britânico integrou material e identidade gráfica dos activistas climáticos na sua colecção de “resposta rápida” à actualidade. “Sabiam desde o início que o design seria vital para gerar interesse, mas também dar um empurrão à mudança.”

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Imagens do material incluído na colecção do museu Chris J Ratcliffe/Getty/V&A

O museu Victoria & Albert (V&A) de Londres juntou à sua colecção de resposta rápida uma série de objectos do movimento Extinction Rebellion, ligados à sua identidade gráfica e ao alastrar do activismo climático a todo o planeta. O material, que vai de bandeiras ao próprio símbolo do Extinction Rebellion, já está em exposição na galeria do museu inaugurada em 2014 para dar espaço a objectos representativos pelo seu design mas sobretudo pelo seu significado e relação com a actualidade.

“Coleccionar o mundo contemporâneo”: é assim que Corinna Gardner, curadora de Rapid Response Collecting do V&A, resumia ao PÚBLICO em 2014 a sua actividade, quando punha um peluche do Lobo Mau e Avózinha do Ikea no conceituado museu. É que o boneco foi usado nos protestos contra o governante CY Leung, de Hong Kong. Agora, é a vez de uma miríade de objectos, ficheiros e até um site se mostrarem aos visitantes do museu londrino como prova de como “o design tem sido fundamental para as exigências de acção urgente perante as alterações climáticas do Extinction Rebellion”, diz Gardner em comunicado.

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Chris J Ratcliffe/Getty/V&A

Essa identidade visual é simples e eficaz: unificadora e ao mesmo tempo distintiva. “Sabiam desde o início que o design seria vital para gerar interesse, mas também dar um empurrão à mudança”, resumiu Gardner sexta-feira na CNN.

“O forte impacto gráfico do símbolo do Extinction Rebellion, a par de um conjunto claro de regras de design, asseguraram que os seus actos de rebelião fossem imediatamente reconhecíveis. Cores fortes, xilogravuras e slogans cuidadosamente construídos disponíveis para download dão ao público o poder de produzir as suas próprias respostas criativas que amplificam colectivamente os apelos do Extinction Rebellion”, explica a curadora de design de produto contemporâneo numa nota divulgada sexta-feira pelo museu.

O V&A adquiriu, com a colaboração do Extinction Rebellion Arts Group (o braço visual do movimento), três bandeiras com os seus símbolos, seis emblemas com os lemas dos activistas, o ficheiro com o Extinction Symbol, criado pelo artista ESP em 2011 e adoptado pelos activistas em 2018, o site onde o logo está disponível para descarregar e usar sem fins comerciais ou o primeiro manifesto do Extinction Rebellion, usado na sua primeira acção pública a 31 de Outubro de 2018.

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Chris J Ratcliffe/Getty/V&A

Nessa Declaração de Rebelião, afixada em Londres, o grupo pedia ao Governo britânico que declarasse a emergência climática e se comprometesse a reduzir até zero as suas emissões de carbono até 2025. “A popularidade imediata destes panfletos torna este exemplar da primeira impressão extremamente raro”, assinala o V&A no mesmo comunicado. A 1 de Maio deste ano, o Parlamento britânico tornou-se o primeiro do mundo a declarar simbolicamente a emergência climática – mas não assumiu qualquer compromisso quanto às emissões, mas apenas uma intenção de neutralização das suas consequências com data até 2050. O V&A associa-se agora à reflexão sobre as alterações climáticas com uma programação que inclui exposições e conferências em várias áreas, do design de moda à alimentação.

“Os objectos que trazemos para o V&A através do nosso programa de Extinction Rebellion são provas de mudança social, tecnológica e económica. O Extinction Rebellion galvanizou as preocupações do público com o planeta e a sua abordagem de design relaciona-se com outros movimentos de protesto como as Sufragistas, que encorajaram que se usasse o roxo, verde ou branco para comunicar visualmente as suas causas”, contextualiza ainda Corinna Gardner na nota que anuncia as novas aquisições do V&A. A colecção inclui ainda um casaco para criança usado numa manifestação, mais ficheiros com o programa em open-source (colaborativo e livre de direitos) com elementos gráficos para uso livre e placas de xilogravura e linogravura usadas em workshops para fazer bandeiras e cartazes.

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Chris J Ratcliffe/Getty/V&A

“A emergência climática e ecológica é o tema do nosso tempo e a arte e o design são cruciais para as nossas acções de protesto não violentas e comunicação”, diz Clive Russell, do Extinction Rebellion Arts Group, manifestando-se contente por os objectos e ideias criados pelo movimento estarem na companhia de outros artistas e designers activistas que integram o acervo do museu.

O Extinction Rebellion nasceu há menos de um ano com uma manifestação frente ao Parlamento britânico que juntou 1500 pessoas anunciando a rebelião e exigindo a acção imediata, a declaração da emergência climática e a criação de uma assembleia cidadã para discutir o tema. Através da sua causa transversal, de uma semana de protestos em Abril, da organização em torno da acção não-violenta e associação à geração mais jovem e de uma “imagética urgente”, como descreve o museu britânico, é hoje uma voz planetária de activismo com a capacidade de convocar protestos com várias formas – de interrupções do trânsito a vigílias. O seu logótipo XR, os 12 tons de cores e os tipos de letra são outras das suas formas de identificação e união em torno da causa.

Portugal é um dos 59 países com um grupo local Extinction Rebellion, cujos momentos mais mediáticos foram a interrupção do discurso do primeiro-ministro António Costa em Abril, a entrada numa emissão da CMTV ou o protesto na sede da EDP pelo encerramento das centrais a carvão de Sines e de Aboño (Espanha).

No último ano, as greves climáticas originadas pela jovem activista sueca Greta Thunberg cruzam-se com os símbolos e as mensagens do Extinction Rebellion nas discussões e manifestações públicas sobre o tema. Esta semana, o Extinction Rebellion saudou a sua “irmã” pela sua nova música de intervenção com a banda The 1975, cujos lucros de venda revertem precisamente para o grupo de activistas. Em Junho, os Radiohead disponibilizaram inéditos de OK Computer depois de terem sido roubados por um hacker e as receitas da sua venda online destinam-se também ao Extinction Rebellion. Entre 20 e 27 de Setembro está agendada uma greve climática, com Portugal a aderir com uma paralisação geral no dia 27.

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