Abrir o caminho para a mobilidade partilhada
Não queremos ser uma iniciativa pontual, mas sim a norma num futuro em que a mobilidade terá de passar cada vez mais pela eletricidade e menos pelos combustíveis fósseis, mais pela partilha e menos pela posse, mais pela proteção do que é de todos do que pelo uso desregrado e sem consideração de recursos e serviços.
O futuro pertence aos jovens, para quem ter carro próprio é cada vez menos importante. A consciência em relação às questões socioeconómicas e ambientais é uma das principais características das novas gerações, que preferem viajar e apostar na sua formação a ter casa ou carro próprio. As cidades vão, por isso, ter de se adaptar cada vez mais ao conceito de mobilidade suave, não só com vista à redução da poluição, mas também para um maior conforto de quem trabalha, vive ou passeia todos os dias no centro da cidade. Em Lisboa, a mobilidade suave contou, em maio, com cerca de 20 mil utilizadores diariamente.
Apostar numa rede de transportes complementar e eficiente, onde se conjugam modelos de mobilidade tradicional e suave, deverá ser, por isso, a prioridade dos municípios. Muitas indústrias já o perceberam e, como consequência, estão a trocar o uso de energias poluentes pela elétrica, contribuindo para a descarbonização do planeta.
Novas soluções de mobilidade têm contribuído para esta tendência. Lisboa, por exemplo, tem vindo a apostar cada vez mais na abertura do mercado a soluções de mobilidade inovadoras. Desde os serviços TVDE, às trotinetes e motociclos elétricos, passando pelos serviços de carsharing – integração é a palavra-chave. É disso exemplo a parceria entre a hive e a OTLIS, que permitiu levar as viagens de trotinete até aos detentores de passes Lisboa Viva, dando o primeiro passo na integração e complementarização dos vários modelos de transporte.
As viagens de trotinete podem assim complementar os já habituais percursos de comboio, autocarro ou metro, as alternativas são muitas e cada vez mais acessíveis a quem quer deixar o carro na garagem (se chegar sequer a tê-lo).
Mas, como em qualquer serviço inovador e disruptivo, ainda há muito trabalho pela frente. Desde logo no que diz respeito à criação de condições dentro das cidades para que os utilizadores de trotinetes circulem com mais segurança. Por este motivo, acreditamos que deve existir uma taxa paga pelos operadores que reverta para a modernização das infraestruturas públicas – os interesses dos utilizadores devem ser a prioridade.
Há, por isso, uma necessidade cada vez mais premente de regulação. A competição entre operadores não pode levar a uma presença desmedida deste tipo de soluções. É preciso que nas altas instâncias o tema ganhe a devida relevância e que sejam discutidas formas de regulamentar e permitir uma coexistência equilibrada dos diversos operadores, para que os utilizadores tenham direito a uma oferta verdadeiramente complementar. Para que, ao invés de se sentirem assoberbados, se sintam tentados a experimentar e a descobrir como as novas formas de mobilidade podem melhorar o seu dia-a-dia.
O principal objetivo destes novos serviços é o de melhorar a mobilidade no centro das capitais europeias, saturadas dos carros, do fumo dos escapes e da poluição sonora. No caso da cidade de Lisboa, o nosso objetivo é que todos os cidadãos, portugueses e estrangeiros, possam desfrutar de uma forma de mobilidade mais ecológica, sustentável e económica. Não queremos ser uma iniciativa pontual, mas sim a norma num futuro em que a mobilidade terá de passar cada vez mais pela eletricidade e menos pelos combustíveis fósseis, mais pela partilha e menos pela posse, mais pela proteção do que é de todos do que pelo uso desregrado e sem consideração de recursos e serviços.
Há ainda um grande caminho pela frente: da parte das autarquias e do Governo, mas também de todos nós. E o mais fácil e imediato será, sem dúvida, começarmos, cada um de nós, nas escolhas do dia-a-dia, a tomar melhores opções. Por nós e pelas gerações que virão depois de nós: o futuro agradece.
Foi isso que tentámos ir todos hoje debater na Conferência Mobilidade Partilhada que aconteceu no Cinema de São Jorge, em Lisboa.
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico