Segunda derrota de Sánchez para formar governo em Espanha
O líder do PSOE conseguiu os mesmos 124 deputados de apoio que teve na primeira votação na terça-feira. A única alteração veio da abstenção da ERC que antes votara contra.
O debate da investidura em Espanha terminou como se esperava, com a derrota de Pedro Sánchez e do Partido Socialista Operário Espanhol. O governo de Sánchez obteve 124 votos a favor (a bancada socialista mais o deputado do Partido Regionalista da Cantábria), 155 contra e a abstenção de 67 deputados. De uma votação para outra, só mudou a abstenção, porque os 15 deputados da Esquerda Republicana da Catalunha passaram do “não” à abstenção.
Um fracasso político estrondoso para o primeiro-ministro em exercício, que não foi capaz de negociar um apoio maioritário no Congresso espanhol. E o tom do último dos quatro dias de debates de investidura foi azedo, com acusações mútuas entre Pedro Sánchez e o líder do Unidas Podemos, cada um culpando o outro do fracasso da esquerda em formar um executivo.
Para Pedro Sánchez havia uma coisa óbvia, “entre forças de esquerda, o Governo tinha que estar garantido desde o primeiro momento” e que o executivo teria “necessitado sempre de Unidas Podemos (UP)” para um governo coerente, mas “o acordo não foi possível”. E para o primeiro-ministro em exercício a culpa foi do partido de Pablo Iglesias que não aceitou a proposta “generosa” dos socialistas.
“Nunca houve problemas de programa que impedissem o acordo”, acrescentou Sánchez, nem sequer “humilhação”, como acusam os dirigentes do UP, mas tendo ambição de voltar a ser primeiro-ministro e que os socialistas formem governo, o PSOE não quer governar a qualquer preço e que haja um governo e não dois governos. “Se me obriga a escolher entre ser presidente [do Governo] e as minhas convicções, escolho as minhas convicções”.
“De que serve uma esquerda que perde inclusivamente quando ganha?”, perguntou retoricamente Sánchez a Iglesias: “É isto que quer para Espanha? O que vai fazer senhor Iglesias? É isto que quer para Espanha? Vai impedir que haja um Governo progressista?”
Perguntas que sabia não teriam uma resposta positiva, pois o Podemos e o seu sócio de coligação Esquerda Unida já haviam anunciado antes da votação que se iriam abster na votação, impedindo que o governo de Sánchez consiga mais “sins” que “nãos” na votação de investidura.
O líder socialista começou o seu discurso no último dia do debate da investidura a falar no “bloqueio parlamentar” à formação do governo, com a falta de acordo com o Podemos e a indisponibilidade da direita para se abster na votação, como a Esquerda Republicana da Catalunha que admitiu “abster-se em troca de nada”.
Sánchez disparou à esquerda e à direita pelo fracasso, discursou durante pouco mais de dez minutos como se tivesse mais peso do que realmente tem no Congresso espanhol. Falando directamente ao Partido Popular, com o nome de Casado por extenso, o líder socialista reclamou que o PSOE é um partido verdadeiramente nacional, com eleitos em todo o território, ao contrário do PP que não conseguiu eleger um único vereador no País Basco, nem um deputado nacional na Catalunha.
Daí que Pablo Casado tenha começado a sua intervenção por dizer, parafraseando o célebre mini-conto de Augusto Monterroso, que quando Sánchez acordou o elefante cor-de-rosa com laço ainda ali estava.
Proposta de Iglesias
O líder do Podemos lançou desde o palanque do Congresso uma última proposta para salvar uma investidura condenada antecipadamente ao fracasso. O seu partido abdica da exigência de ficar à frente do Ministério do Trabalho se lhe for atribuída a tutela das políticas activas de emprego.
“Faço-lhe a proposta que nos ceda as políticas activas de emprego”, disse Iglesias, estendendo à última hora uma mão para “salvar esta sessão de investidura”. “Não leve os espanhóis a eleições. Negoceie connosco com respeito”, terminou Iglesias.
Respeito foi a palavra que Iglesias usou no princípio do seu discurso dirigindo-se directamente a Pedro Sánchez: “Acha que nestes meses falou connosco com o respeito com que se fala com os seus sócios de governo? Merecemos respeito”.
O líder do Podemos acusou os socialistas de quererem negociar um acordo de governo em 48 horas, quando nada fizeram durante 80 dias. Era a introdução para um enumerar de cedências que o seu partido foi fazendo durante as conversações com o PSOE, inclusivamente o veto a Iglesias. Até nessa “humilhação”, “sem precedentes” na história democrática espanhola, o Podemos cedeu, aceitando que o seu líder faça parte do executivo de coligação.