Rapper ProfJam sobre o hip-hop nos festivais: “A cultura não tem que ser segmentada”

Em linha com as edições mais recentes do Super Bock Super Rock, houve um dia dedicado ao hip-hop. Migos e Janelle Monáe foram os grandes destaques, mas os representantes nacionais não se deixaram ficar atrás. ProfJam e Mike El Nite analisam a presença do hip-hop nos festivais de verão e a presença de artistas portugueses.

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ProfJam abriu o Palco Super Bock no último dia do festival Andreia Carvalho
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Mike El Nite actuou em nome próprio e serviu de DJ no concerto de ProfJam Andreia Carvalho

“Muitas pessoas pensam que o Super Bock Super Rock foi construído para ser um festival de rock, mas o hip-hop esteve lá desde o primeiro ano”, explica o rapper ProfJam, nome artístico de Mário Cotrim, referindo-se à presença de Black Company, grupo de rap português de Almada, na primeira edição do festival em 1995, quando ainda se realizava na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa. “Os festivais deviam apostar num maior entrosamento de estilos em vez de criarem uma identidade restritiva.”

Dizer que o hip-hop e o rap têm sido uma das grandes apostas do festival Super Bock Super Rock, que este ano regressou à Herdade do Cabeço da Flauta, no Meco, não é nenhuma novidade. “Desde que o festival apostou em Kendrick [Lamar] e esgotou, a organização percebeu o que devia fazer”, disse Mike El Nite, stage name de Miguel Caixeiro, que além de ter actuado em nome próprio no Palco Somersby, ainda serviu de DJ durante o concerto de ProfJam, a quem coube a responsabilidade de abrir o Palco Super Bock no último dia do festival.

Sábado esteve claramente vocacionado para os estilos de música urbana, com o grupo de rap Migos e a cantora Janelle Monáe como maiores destaques do dia, mas o Super Rock também esteve repleto de inúmeras promessas do hip-hop português como Pedro Mafama, TNTEstraca, além dos dois nomes já citados. “A organização fez bem em juntar artistas portugueses com os internacionais”, afirma Mike. “Neste momento, Portugal está a um nível de competitividade e de shows que conseguem fazer frente aos grandes nomes internacionais.”

Os dois artistas consideram que esta “competitividade” é saudável, porque permite-lhes subir a parada dos seus espectáculos e reafirmarem-se na cena musical nacional. “Podemos dizer que já tocamos no mesmo palco que os Migos! É uma abertura de portas e ajuda-nos a desmistificar o preconceito gigante que há em Portugal em relação aos concertos de hip-hop, de que não têm tanta qualidade como os de rock. Acho que já está provado que isso não é verdade, estamos ao nível”, assegura Mike, relembrando a projecção que este tipo de concertos tem no resto do ano. 

Apesar de confiantes no talento nacional, os músicos não puderam deixar de referir a falta de apoios que os impede de demonstrar o seu potencial máximo. “O governo não precisa de ajudar directamente os músicos, mas devia criar condições indirectas para os artistas poderem proliferar e desenvolverem-se a nível musical”, confessou ProfJam. 

Quando questionados sobre se gostavam de assistir à criação de um festival exclusivo para o hip-hop ou o rap, ambos os artistas consideram essa postura “separatista” pouco atractiva. “É mais interessante fazer um festival de tudo. Misturar estilos e expor o público a várias cenas diferentes. Assim o público de hip-hop vai ver coisas que caso contrário não ia ver, tal como o público do rock. Acabas por criar mais união e debate.”

“A cultura não tem que ser segmentada”, concorda ProfJam. “Desta forma estás a contribuir para uma cultura mais rica e diversificada.”

Texto editado por Isabel Salema

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