Os oito livros que Marcelo Rebelo de Sousa escolhe para este Verão eleitoral
Entre diplomas e telegramas, Marcelo Rebelo de Sousa anda “feliz” com Mário Cláudio e “preso” às cartas de Calouste Gulbenkian. Para as férias com os netos, escolhe uma biografia de Cesariny. A campanha eleitoral vai roubar-lhe tempo à leitura, antevê.
De uma rajada, Marcelo Rebelo de Sousa trata de explicar que, “em rigor”, as suas leituras de Verão "já começaram, aproveitando as viagens e as noites ainda mais longas desta época do ano”. Marcelo, o Presidente da República, ex-comentador político e professor jubilado, tem tempo para tudo apesar do dia-a-dia intenso, com audiências, análise de diplomas do Governo e a leitura de telegramas diplomáticos “escritos, em geral, com cuidado ou mesmo primor de escrita”. Mesmo assim, sublinha, não terá o tempo de “outros verões” e ainda por cima prevê um Agosto mais trabalhoso. As escolhas são explicadas na primeira pessoa.
Tríptico da Salvação, de Mário Cláudio
“As minhas leituras de Verão começaram, no final de Junho, com Mário Cláudio e o seu Tríptico da Salvação. Sou suspeito quanto a Mário Cláudio, porque o admiro há muito e gosto do que escreve. E ele sabe disso. Apresentei um livro seu há anos, Camilo Broca, ideia sua, que sempre atribuí às minhas raízes minhotas, e surpreendo-me sempre por cada nova obra sua. Esta, mais do que surpreender-me, encheu, no sentido mais feliz do termo, meia semana em madrugadas, aliando a escrita trabalhada de sempre a um enredo apelativo a quase História, quase aventura exterior e interior e imaginação nunca esgotada apesar de 50 anos de devoção literária.”
Educação do Delfim
“Desde há uma noite, ando preso a Educação do Delfim, cartas de Calouste Gulbenkian a seu neto, Mikaël Essayan. Imperdível, para os interessados nessa personagem fascinante que foi Gulbenkian, para os conhecedores ou curiosos desse tempo agitadíssimo que foram os anos 1941 a 1945, ou, simplesmente, para os apreciadores do que já não há, epistolografia de qualidade. Para além do mais, fica a entender-se a pré-história do porquê de a Fundação Gulbenkian ter seguido muito do caminho que seguiu.”
O Triângulo Mágico, de António Cândido Franco
“Para as semanas que aí vêm, feitas de trabalho até quase meados de Agosto, entremeado de chegada dos netos, vindos das lonjuras, o mais aconselhável é uma biografia sobre Mário Cesariny, O triângulo Mágico, de António Cândido Franco. Um tema muito próximo no tempo, se é que Cesariny não é, por natureza, próximo de todos os tempos, e que me recorda os anos 80, em que o conheci, a propósito da compra de um quadro seu, com Manuel de Brito pelo meio. Início dos anos 80 e início da minha mania de coleccionar o que podia de pintura contemporânea portuguesa.”
Em tudo havia beleza, de Manuel Vilas
“Já em Agosto, depois de uma visita oficial ao estrangeiro, lanço-me na ficção não nacional com Em tudo havia beleza, de Manuel Vilas. Dele li Espanã, já lá vão dez anos.”
Desta terra nada vai sobrar..., de Ignácio de Loyola Brandão
“Logo a seguir, Desta terra nada vai sobrar a não ser o vento que sopra sobre ela, de Ignácio de Loyola Brandão. A minha dúvida é saber se a visão ficcionada é um retrato do mundo que aí vem inexoravelmente ou é, também, o acentuar dessa visão por um pessimismo que tenho encontrado, muitas vezes, fruto do desencanto pessoal com tanta realidade da vida. No caso vertente, num outro país onde tenho uma parte da minha família, o Brasil.”
Leonardo da Vinci, de Walter Isaacson
“Para Setembro, que Agosto vai ter muito a fazer, mesmo em férias e após elas, de leis a apreciar, ficará a tradução portuguesa de Leonardo da Vinci, de Walter Isaacson, da Porto Editora. Do autor li a biografia de Kissinger, mas reconheço que me está a atrair mais esta, de Leonardo da Vinci.”
O Escândalo do Século, de Gabriel Garcia Márquez
“A fechar o Verão, Gabriel García Márquez, o jornalista, vai preencher o que restará de tempo eleitoral, com as crónicas reunidas sob o título de O escândalo do século, da D. Quixote. Uma escolha de Cristóbal Pera, e uma leitura leve para poder ser repartida entre Lisboa e uma ida a Nova Iorque, às Nações Unidas. E é tudo. Menos do que desejaria e já existiu em verões de outros tempos…”
Fogo na noite escura, de Fernando Namora
“Se ainda tiver umas noites livres, na transição para Outubro, tentarei regressar a Fernando Namora e aos anos 40, com Fogo na noite escura. Confesso que nunca aderi ao esquecimento de Namora ou aos juízos mais críticos quanto à sua temporalidade. Mas, só Deus sabe - no meu entendimento de crente notório - se haverá tempo para essa breve digressão antes do Outubro que temos pela frente. Perto do final de Agosto já saberei”.