Alemanha ultrapassa Noruega nos eléctricos, mas venda de carros está em queda livre
Mercado europeu encolheu 7,8% em termos homólogos em Junho. Em termos absolutos, a Alemanha comprou mais eléctricos do que a Noruega e é o único grande que aumenta vendas no semestre.
A Alemanha bem pode respirar de alívio: a indústria não anda bem, mas o importante sector automóvel é o único dos grandes mercados nacionais de carros na União Europeia (UE) em que as vendas cresceram no primeiro semestre de 2019 face ao período homólogo de 2018. Mesmo que a quota de mercado dos eléctricos seja bastante pequena (menos de 3%), os alemães conseguiram também outro feito: ultrapassaram as compras de eléctricos, em número absoluto, da Noruega, país com a maior quota de eléctricos em todo o mundo.
Em termos de vendas, Berlim regista um crescimento muito pequeno (+0,5%), de Janeiro a Junho. Mesmo assim, contraria o cenário nos restantes grandes mercados: em França, venderam-se menos 1,8% de viaturas; no Reino Unido a quebra foi de 3,4% e em Itália as compras de carros novos desceram 3,5%. O quinto maior mercado, a grande distância dos outros, é a Espanha, onde a quebra é de 5,7%.
Os números divulgados nesta quarta-feira confirmam que o sector é dos que melhor espelham o arrefecimento económico global. É o nono mês de quebra de vendas, nos últimos dez. A excepção foi Maio de 2019, que teve um aumento de 0,1% face ao mês precedente.
Pressão crescente
A indústria europeia já tinha baixado as expectativas do negócio, revendo a previsão de crescimento de 1% em 2019 para uma quebra de 1%. Em termos mundiais, o cenário também está tremido: o sector anunciou 35 mil despedimentos nos últimos seis meses. As vendas na China continuam a cair. Nos EUA, a Ford e a GM estão em reestruturação e a Chrysler (associada à Fiat) viu gorar-se uma tentativa de fusão com a Renault.
Os novos dados europeus mostram que, em Junho, as vendas entraram em queda livre. Nesse mês foram comprados 1.446.183 carros na UE, menos 7,8% face ao mesmo mês de 2018. “Em grande medida, esta variação deve-se a um efeito de calendário”, diz a Associação Europeia de Construtores de Automóveis, que reúne os 15 maiores fabricantes europeus (ACEA na sigla original).
Em causa está o facto de Junho de 2019 ter tido 19 dias de trabalho na Europa, menos dois do que os 21 dias úteis de Junho de 2018. Em consequência disso, os quatro grandes mercados europeus registaram quebras, sendo as maiores em França (-8,4%) e Espanha (-8,3%). Aliás, dentro da UE, apenas em cinco países se venderam mais carros em Junho deste ano do que em Junho do ano anterior: Lituânia, Roménia, Irlanda, Grécia e Chipre. Porém, são mercados muito pequenos – representam apenas 2,38% das vendas.
Portugal acompanha quebra
Em Portugal a variação também foi negativa (-3,5% para 25.305 unidades vendidas em Junho), porém muito longe da quebra na Suécia (-52%, para 31.830 carros) e da Rep. Checa (-15,5%, para 21.902 unidades).
Comparando semestres, os números são menos gravosos em termos globais, mas não deixam de ser más notícias para a indústria. As vendas na UE caíram 3,1% (para 8,18 milhões de carros) e a Suécia teve a descida mais expressiva (-25,6% para 167.882 unidades). Mas houve 11 mercados nacionais com aumentos, sendo os mais relevantes a Alemanha, como já foi referido, e também a Polónia, onde as vendas cresceram 1,9% para 278.332 carros.
Em Portugal, a quebra no primeiro semestre foi de 4,4%, para 128.595 novas viaturas registadas.
Desta onda de más notícias, salva-se a venda no segmento de carros eléctricos e híbridos – mas a quota de mercado ainda é tão pequena que não chega para dar alegrias aos industriais.
Mercado de eléctricos anima
Mesmo assim, na Alemanha celebra-se um aumento de 41% nas vendas no primeiro semestre de 2019, período em que foram comprados 48 mil viaturas eléctricas (80% eléctricos puros e 20% de híbridos plug in), de acordo com os dados do Center of Automotive Management (CAM), uma organização alemã sediada perto de Colónia (PDF aqui).
Em termos absolutos, os germânicos compraram mais carros eléctricos do que os noruegueses (44 mil unidades vendidas, um aumento de 22%). Porém, a quota de mercado na Noruega é de 56,2% (mais 9,6 pontos percentuais do que no período homólogo de 2018), ao passo que na Alemanha essa mesma quota é de 2,6% (um aumento de 0,8 pp).
Face a estes dados, a Alemanha torna-se o terceiro país com mais vendas neste segmento, atrás da China, que lidera (628 mil eléctricos vendidos no primeiro semestre) e dos EUA (149 mil unidades). O relatório do CAM não tem dados para Portugal.
Volkswagem lidera, nipónicos crescem
Nas vendas por construtor, voltam a ser os alemães a dominar, com a Volkswagen (VW) à frente. Porém, o grupo de Wolfsburgo regista uma perda maior (de 4,3%) do que a generalidade dos restantes concorrentes, com excepção dos italo-americanos da Fiat-Chrysler (-9,5%) e da Ford (-7,6%).
Ainda assim, ninguém se aproxima do volume de vendas da VW, cujas marcas venderam 355 mil carros em Junho e 1,98 milhões no primeiro semestre. O grupo PSA é quem fica mais perto, com 234 mil unidades vendidas em Junho e 1,36 milhões no semestre.
Só mesmo as marcas nipónicas (e a Volvo, controlada por chineses) conseguiram aumentar as vendas na UE. A excepção chama-se Nissan, cujas vendas caíram 24% na Europa, o que pode explicar-se com o facto de os modelos Juke e Qashqai terem perdido terreno para concorrentes do mesmo segmento como o Peugeot 3008 e o Renault Captur.
Para accionistas, as boas notícias do mercado alemão não são suficientes. A Daimler AG, detentora da Mercedes, voltou a avisar para quebras nos lucros, devido a custos acrescidos com a revisão forçada de 670 mil veículos com problemas no sistema de airbags e suspeitas de manipulação de resultados nos testes de emissões de motores diesel.
É a quarta vez no espaço de um ano que a gestão da Daimler alerta os accionistas para potenciais quebras. Um cenário que os accionistas da BMW, outro gigante alemão, já tiveram de provar no primeiro trimestre de 2019, o primeiro em dez anos com prejuízos na divisão de carros da marca bávara. A culpa foi sobretudo do impacto contabilístico de uma provisão de 1600 milhões de euros, no contexto de uma acusação de Bruxelas contra a BMW e outras marcas alemãs por suspeita de cartelização.
A indústria automóvel empregava 13,8 milhões de europeus. Estes postos de trabalho, directos e indirectos, segundo a ACEA, são 6.1% do total do emprego e 11,4% da indústria de manufactura da UE.