A missa negra dos Coven chega ao Festival Woodrock
A maior atracção da sétima edição do festival Woodrock é a estreia em nacional dos Coven, pioneiros do rock oculto.
Começa esta quinta-feira a sétima edição do festival Woodrock, em Quiaios na Figueira da Foz, que vai decorrer entre os dias 18 e 20 de Julho. O grande destaque recai na estreia (sexta-feira), em Portugal da banda de culto norte-americana Coven, pioneiros do rock oculto (subgénero do rock que funde elementos deste estilo com temas satânicos e do oculto).
Formados em 1967 em Chicago, Illinois, Coven (referência ao termo utilizado para as reuniões ou grupos de bruxas) foram das primeiras bandas a adoptarem o imaginário satânico e ocultista nas suas músicas e performances ao vivo que chocavam audiências, onde era frequente montarem cruzes invertidas em palco com um dos seus roadies pendurados. O organizador do Woodrock, Paulo Cardoso, disse à agência Lusa que os Coven "foram perseguidos” nos EUA das décadas de 1960 e 1970 “numa sociedade profundamente católica e altamente preconceituosa, não só pelo imaginário que recriavam e os temas satânicos, mas também por Jinx Dawson ser mulher”. ” [Nos nossos concertos] não haviam aplausos, por isso pensávamos, ‘é melhor fugirmos daqui antes que nos matem’, estávamos durante o auge da cultura hippie”, contou a vocalista e fundadora Jinx Dawson numa entrevista à revista Metal Hammer, em 2017. “Só cinco minutos depois é que as pessoas nos aplaudiam, era esse o tempo que demoravam a interiorizar as nossas mensagens e o que estávamos a fazer em cima de palco.”
O primeiro álbum da banda fundada por Jinx Dawson, na altura com 17 anos (hoje com 69), pelo baixista Oz Osborne (não confundir com Ozzy Osbourne, vocalista e fundador dos Black Sabbath) e pelo baterista Steve Ross chama-se Witchcraft Destroys Minds & Reaps Souls, editado em 1969, inclui pela primeira vez o “símbolo dos chifres” (os dedos mindinho e indicador espetados, anos mais tarde disseminado a nível planetário em concertos de hard rock e heavy metal) e uma faixa chamada Black Sabbath (de relembrar, que este álbum saiu um ano antes do álbum homónimo dos Black Sabbath que abre com uma música com exactamente o mesmo nome). Nas várias ilustrações que acompanhavam o álbum é possível observar cruzes invertidas, chamas, artefactos relacionados com o ocultismo e a recriação de um ritual satânico, com Jinx Dawson deitada nua num altar, rodeada por membros da banda.
A banda manteve-se em actividade até meados dos anos 1970. Voltaria aos palcos e às gravações apenas em 2007 e, dez anos mais tarde, actuou pela primeira vez na Europa, na Holanda e Reino Unido. Os Coven começam a sua mais recente digressão europeia na sexta-feira, no festival Woodrock, a primeira das 11 datas europeias, que os levará também a Espanha, França, Alemanha e República Checa. “Trazer os Coven era um desejo antigo do festival. Conseguimos chegar a acordo com eles e a digressão europeia começa aqui”, disse Paulo Cardoso que acrescenta que a estreia dos Coven em solo luso “será um acontecimento único” que fará o Woodrock “entrar na história dos festivais em Portugal”. “É uma banda que está na história do rock mundial. E quanto mais conhecemos o percurso dos Coven, mais temos a certeza de que vamos fazer parte de um momento histórico”, enfatiza o organizador do festival.
Paulo Cardoso admite que apesar de muitos membros do público do Woodrock “desconhecerem a história dos Coven”, sustenta que o que a banda norte-americana fez há 50 anos era “novo” e “chocante” e acredita que Jinx Dawson “será muito acarinhada” no festival da praia de Quiaios.
O Woodrock, que mantém uma política “muito estudada todos os anos de não crescer desmesuradamente, não crescer por crescer”, começa na quinta-feira com um cartaz onde pontificam o duo francês Putan Club, que mistura guitarra, baixo, voz e muita electrónica, os espanhóis El Altar del Holocausto e os portugueses Galo Cant'às Duas e Wildnorthe. Na sexta-feira, dia de estreia dos Coven em Portugal, o cartaz inclui ainda os espanhóis Santo Rostro e Acid Mess e os portugueses Greengo e Asimov. No sábado, último dia do Woodrock, Paulo Cardoso destaca a presença “muito importante” do rock dos portugueses Linda Martini, acompanhados no cartaz pelos ingleses Church of the Cosmic Skull, outra estreia em Portugal, e os projectos nacionais Solar Corona, Sunflowers e The Quartet of Woah.