Gina Périer queria poder beber cerveja em festivais de Verão sem se preocupar com a fila que ia encontrar a serpentear as casas de banho para mulheres. Não queria perder o início do concerto, mas nem a arquitecta francesa nem as amigas se sentiam particularmente confortáveis e seguras a urinar debaixo de uma árvore — não tanto como um homem, pelo menos.
Mas e se, debaixo dessa árvore, estivesse um urinol pensado para mulheres? Segurem-lhe a cerveja enquanto a arquitecta apresenta o Lapee, o “primeiro urinol feminino produzido industrialmente”, criado em conjunto com Alexander Egebjerg, também arquitecto. “Queríamos criar a versão feminina de um produto que existe por todo o mundo”, diz, simplesmente. “A falta de urinóis femininos tem um impacto considerável na igualdade de género, mais evidente ao longo de eventos ao ar livre.”
A espiral cor-de-rosa choque permite que três mulheres entrem e urinem ao mesmo tempo, agachadas ou sentadas, cada uma num compartimento sem porta, mas que as resguarda do exterior por uma parede curvilínea. A plataforma que faz a vez de sanita está elevada de forma a que quem a use, mesmo não estando em pé, possa espreitar para o que se está a passar à volta, lá fora. “Assim, estás numa melhor posição para te defenderes do que se estivesses fechada numa cabine com alguém”, defendem os arquitectos que acreditam que ter uma porta não tornaria o dispositivo mais seguro.
A arquitecta francesa de 25 anos, a viver na Dinamarca, imaginou este mundo cor-de-rosa com Alexander Egebjerg durante um programa de voluntariado para estudantes de arquitectura do Roskilde, um festival de música, activismo e artes dinamarquês — onde este ano também esteve presente a artista portuguesa Marisa Benjamin, com um laboratório a pedal para servir Eau Florale.
Há uma semana, o mesmo festival disponibilizou ao público (feminino) 48 destes urinóis, espalhados pelo recinto. "Enquanto estivemos aqui, no sábado e domingo, só foram usados por mulheres e elas estavam tão contentes”, contou a arquitecta numa entrevista ao Guardian, que esteve no evento. Outra das vantagens do equipamento, defendem, é que diminui o tempo de uso por pessoa de três minutos, numa casa de banho numa cabine portátil, por exemplo, para apenas 30 segundos. E também protege a privacidade de quem opta por não esperar horas em filas para entrar em casas de banho sujas. Em 2017, neste mesmo festival dinamarquês, um alemão de 49 anos foi detido e depois preso por filmar, sem consentimento, cerca de 60 mulheres a urinarem junto de vedações, com uma câmara fotográfica escondida dentro de uma lata de cerveja.
No Instagram, procurando pela etiqueta #lapee, encontram-se várias selfies de mulheres dentro de um dos urinóis na Dinamarca com descrições como “Finalmente, algo para nós!”. Mas também foram partilhadas imagens do urinol a transbordar, ou cheio de papel higiénico molhado. “Quando és mulher e vais a casas de banho em festivais, elas estão normalmente cobertas de fezes”, comenta a arquitecta. “Por isso, ir a um sítio onde pelo menos sabes que só vai haver chichi soa à coisa mais luxuosa do mundo.”