O eterno sobressalto do PSD de Rio
O PSD vai para eleições em sobressalto. Com Rui Rio, tinha de ser assim.
Parece maldição: sempre que Rui Rio consegue marcar a agenda política, sempre que anuncia uma ideia para o país ou sempre que surpreende com ideias fora da caixa, como a da nomeação de jovens como cabeças de lista, surge de imediato uma crítica, uma dissidência ou uma demissão a deitar tudo a perder.
Depois de tantas repetições deste sobe e desce da liderança, talvez não seja boa ideia acreditar que Rui Rio é vítima de azar, de uma persistente cabala dos seus opositores ou alvo de uma orquestração interna que aguarda sempre o melhor momento para o abalar. Talvez o melhor mesmo seja indagar sobre se, mais do que vítima, Rio não será culpado de tantos embaraços.
A corroborar esta possibilidade está o que aconteceu nos últimos dias, com a demissão do seu vice-presidente Manuel Castro Almeida. Porque Castro Almeida está longe de ser um figadal opositor de Rio – pelo contrário foi um dos seus incondicionais apoiantes desde a primeira hora. O agora ex-vice está longe de ser uma figura truculenta e ávida de uma progressão rápida na carreira política – pelo contrário sempre foi discreto.
Não é um companheiro de circunstância – pelo contrário, é próximo de Rio desde que partilharam como autarcas lugares de destaque na Área Metropolitana do Porto. Para abandonar a liderança de Rio e anunciá-lo publicamente, algo de complicado deve ter acontecido.
Quem conhece Rui Rio desde os tempos em que foi autarca no Porto não tem dificuldade em imaginar o que aconteceu. Rui Rio tem imensa dificuldade em aceitar opiniões de outrem. Qualquer reparo é interpretado como uma quebra de lealdade. A mínima crítica é vista como um ataque pessoal. O espírito brigão de Rui Rio, que alimenta a sua resistência e dá genuinidade às suas convicções, encara qualquer divergência como um desafio pessoal.
Estando ele no poder, tende a impor a exclusividade das suas regras – que podem funcionar para personagens de segundo ou terceiro plano, mas dificilmente funcionam com pessoas com a craveira pessoal e política como Castro Almeida.
Mais do que um caso avulso, a demissão sugere um clima inóspito na liderança do PSD. As figuras maiores da liderança, como Morais Sarmento ou até David Justino, andam em parte incerta. A gestão da informação é digna dos hábitos do Kremlin. Rio, bem ao seu jeito, vai dando provas de valentia e avança com rupturas na formação das listas ou na política fiscal.
Não sabemos se exibe um sinal de força ou de fraqueza. Ver-se-á em breve. Até lá, uma certeza: o PSD vai para eleições em sobressalto. Com Rui Rio, tinha de ser assim.