Vice-presidente Castro Almeida afasta-se da actividade política e de Rui Rio
Dirigente está descontente com a forma como Rui Rio está a dirigir o PSD. Castro Almeida recusa comentar o assunto.
O vice-presidente do PSD Manuel Castro Almeida afastou-se da actividade partidária por estar descontente como a forma como o partido está a ser presidido por Rui Rio, apurou o PÚBLICO.
Castro Almeida, bem como outros apoiantes da candidatura de Rio à presidência do PSD, não concordam com a forma centralista como o presidente gere o partido, acusando-o de não ouvir quase ninguém antes de tomar decisões e de não ouvir os seus pares sobre questões importantes e sensíveis da vida política.
O último episódio, que desagradou a muitos dos apoiantes do líder social-democrata, nomeadamente a membros da sua direcção, foi a revelação dos cabeças de lista para diversos círculos eleitorais às legislativas de Outubro. Rio deixou de fora muitos dos que trabalham com ele, ou figuras importantes e com provas dadas no partido e na actividade política, optando por nomear caras novas, alguns totalmente desconhecidos no PSD e na vida política, o que irritou alguns dos que eram próximos de Rio.
O PÚBLICO contactou por telefone Castro Almeida, que, por diversas vezes, afirmou: “Não quero falar sobre o assunto.”
Castro Almeida é uma figura de peso e respeitada no partido. Ocupou vários cargos de dirigente com diversos presidentes do PSD. Foi presidente da Câmara de São João da Madeira, distrito de Aveiro, cumprindo três mandatos (2001/2013). Foi também deputado em três legislaturas e secretário de Estado do Desenvolvimento Regional no Governo de Passos Coelho. Mas também já tinha ocupado a secretaria de Estado da Educação e do Desporto, no terceiro Governo de Cavaco Silva (1993/95).
Já como vice-presidente de Rui Rio, representou o líder do partido, no ano passado, nas negociações do acordo sobre fundos estruturais para a próxima década (Portugal 20/30), com o então ministro do Planeamento e das Infra-estruturas, Pedro Marques.
Em Novembro do ano passado, numa entrevista ao PÚBLICO e Rádio Renascença, o vice-presidente do PSD criticava as divisões no partido e apelava a um aproximar de ambas as partes. “Há um acentuar de críticas e de formulações alternativas. Basta ver o que se passou com este OE2019 [Orçamento do Estado]. (...) É bem certo que não há uma percepção pública das propostas do PSD. Em boa medida, porque há um problema que ainda não resolvemos, que é de ruído interno, que dificulta que as nossas propostas passem. Quando se fala de questões internas, não se fala de oposição”, disse Castro Almeida, 61 anos, advogado.
“É verdade que hoje há um clima de divisão, confrontação, de hostilidade no interior do partido que é excessivo, não é normal”, afirmou, destacando que este clima está a “prejudicar a afirmação do partido e não deixa o partido afirmar as suas mensagens”. Questionado sobre como resolveria o “ruído interno”, Castro Almeida sublinha que “há dois lados de um conflito e isto só se resolve se os dois lados resolverem aproximar-se”.
Já nessa altura, questionava a estratégia de comunicação do PSD: “O jogo de comunicação do Governo é muito mais poderoso do que o dos partidos da oposição. (…) O PSD, por culpa nossa, não tem conseguido explicar isto às pessoas. Quando os portugueses interiorizam isto, esta realidade, pensam duas vezes e ficam abananados.”
Em Fevereiro, numa entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, ainda antes das eleições europeias, o vice-presidente do PSD considerava que o seu partido ia disputar as eleições “taco a taco” com o PS e ganhar. Considerando que “a maioria absoluta do PS já se esfumou”, Castro Almeida admitia: “Se nós não o fizermos é porque somos incompetentes. Se o PSD não ganhar as eleições é por culpa própria porque o Governo está a fazer o necessário para as perder”. Considerava também que uma solução governativa com o PS só em cenário de excepção, como “uma guerra civil, de invasão estrangeira”.
Para atingir a vitória nas legislativas, a estratégia do PSD passa, ainda segundo Castro Almeida, primeiro por mostrar que o Governo é “um logro” e, em segundo lugar, por afirmar as posições do partido como alternativa porque, o PSD, agora “em acalmia, tem condições para o fazer”.