A diversidade cultural da Terra marca novo ciclo de música em Guimarães
O concerto da angolana Aline Frazão, em 20 de Julho, vai marcar o início do Terra, um ciclo de música do mundo que, segundo a organização, pretende afirmar o “diálogo entre culturas”, num tempo em que “os sentimentos nacionalistas e os discursos de ódio aumentam”.
O Centro Internacional de Artes José de Guimarães (CIAJG) vai ser, de Julho até Novembro, um lugar de encontro entre os sons que ecoam desde Angola, Uganda e Mediterrâneo e as colecções permanentes de arte africana, arte pré-colombiana e arte chinesa antiga reunidas pelo artista plástico que dá o nome ao espaço inaugurado em 2012, durante a Capital Europeia da Cultura.
Com três concertos agendados para a sua edição de estreia – Aline Frazão, Otim Alpha e Zulu Zulu -, o Terra é um ciclo de música do mundo que almeja ser um “ponto de celebração da diversidade cultural”, ainda para mais num espaço que navega pela arte contemporânea, com exposições de artistas nacionais e internacionais. “O CIAJG é o lugar de excelência a partir do qual Guimarães pode olhar para o mundo”, explicou Luísa Alvão, presidente da Capivara Azul, associação organizadora. “Fazia todo o sentido elaborar este projecto em diálogo com a obra de José de Guimarães”.
O evento, acrescentou a responsável, vai arrancar com o concerto da angolana Aline Frazão precisamente para homenagear uma das primeiras exposições que José de Guimarães apresentou, em Luanda, no ano de 1968 – o “T” que o artista apresentou então inspira, aliás, o logótipo do Terra. Na black box do CIAJG, espaço com capacidade para cerca de 200 pessoas, vão-se ouvir os sons tradicionais de Angola, mas também de outras latitudes, com as de Cabo Verde, de Cuba e do Brasil, exploradas no seu quarto e mais recente álbum, Dança de Chuva (2018).
O espectáculo inaugural vai decorrer com a plateia sentada, mas os outros dois convidam o espectador a ouvir de pé, antecipou Luísa Alvão. Em 28 de Setembro, o CIAJG recebe a estreia em Portugal de Otim Alpha, artista do Uganda cuja música é um “casamento entre os sons do Norte de Uganda e a música electrónica, habitualmente europeia e norte-americana”, explicou Luísa Alvão. O ciclo encerra no dia 23 de Novembro com os Zulu Zulu, uma banda de Palma de Maiorca que, apesar dos instrumentos ligados ao rock, se distingue pelo carácter “ritualístico” das suas actuações. “Eles tocam com máscaras e são quase teriantrópicos, porque cada um dos elementos assume a personagem de um animal”, disse a presidente da Capivara Azul. Nesse dia, o colectivo espanhol vai apresentar alguma música inédita, fruto da residência artística de uma semana que vai cumprir na cidade.
O Terra, salientou ainda Luísa Alvão, pretende ser um exemplo da forma como a arte, e mais concretamente a música, pode agregar as pessoas e levá-las a serem melhores cidadãs, num tempo em que crescem os “sentimentos nacionalistas e os discursos de ódio” na Europa e no resto do mundo. “Gostaríamos de incluir outras disciplinas artísticas neste ciclo, como o cinema, mas a música é a disciplina artística que mais facilmente junta pessoas e que melhor ajuda a passar esta mensagem”, considerou.
Com um orçamento de cerca de 10.000 euros, a primeira edição do Terra conta com o apoio da Direcção-Geral do Património Cultural, da Câmara Municipal de Guimarães e da cooperativa artística Oficina. A vereadora para a cultura, Adelina Paula Pinto, defendeu que o aparecimento de um festival com “pensamento político” é uma prova da “maturidade cultural” da cidade.