Ricardo Salgado: “Nunca na minha vida corrompi ninguém”
Ex-banqueiro confirma transferência de 25 milhões para Zeinal Bava, mas diz que foram apenas transferências de fundos fiduciários.
O ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES) Ricardo Salgado garantiu nesta segunda-feira, depois de ter sido ouvido pelo Juiz Ivo Rosa, no âmbito da instrução da Operação Marquês, no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, que nunca corrompeu ninguém. “Nunca na vida corrompi ninguém”, disse.
Sobre as transferências no valor de 25 milhões de euros que, na tese do Ministério Público, terão sido feitas pelo Grupo Espírito Santo (GES) para Zeinal Bava, enquanto este era presidente executivo da antiga Portugal Telecom (PT), Salgado garantiu que conseguiu esclarecer tudo.
“Fui chamado para falar sobre este assunto específico e foi sobre isso que falei. Como não houve mais perguntas, acredito que ficou esclarecido”, afirmou.
Tanto Zeinal Bava como Ricardo Salgado são arguidos na Operação Marquês.
Em causa está um contrato assinado a 20 de Dezembro de 2010, usado por Salgado para explicar o pagamento, entre 2007 e 2010, de 25,2 milhões de euros ao então gestor da PT, Zeinal Bava.
Os arguidos alegam que o documento se inseria num programa de incentivo aos quadros superiores da companhia. Porém, o Ministério Público defende que seria uma forma de esconder os alegados actos ilícitos.
O dinheiro terá sido transferido em três parcelas da Espírito Santo Enterprises para contas controladas por Bava na Suíça e em Singapura. Em 2016, o ex-gestor devolveu 18,5 milhões de euros à massa insolvente da Espírito Santo Internacional, por ser, sustenta, a credora daquele montante.
Fonte ligada ao processo informou o PÚBLICO de que Salgado disse que o que ocorreu foi uma transferência de “fundos fiduciários”, e confirmou o valor: os 25,2 milhões, transferidos em três tranches. Primeiro, de 6,7 milhões, depois, de 8,5 milhões, e depois 10 milhões.
Além disso, afirmou que era uma situação que já era falada desde 2006, mas que apenas foi formalizada em 2010.
O antigo banqueiro está acusado de corrupção activa, branqueamento de capitais, abuso de confiança, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada. Além das transferências feitas para Zeinal Bava, o Ministério Público suspeita que Ricardo Salgado terá transferido cerca de 34 milhões de euros para José Sócrates, também arguido no processo, a troco de favorecimento dos seus interesses no GES e na PT.
Questionado sobre se lhe foi perguntada alguma coisa relativa ao antigo primeiro-ministro José Sócrates, arguido que a acusação considera ter sido corrompido pelo antigo banqueiro do BES, Ricardo Salgado respondeu que ninguém lhe perguntou nada sobre Sócrates.