Estudos recentes comprovam que existe um período da semana em que é mais provável morrermos de ataque cardíaco: segunda-feira, entre as 8 e as 9 horas. Este intervalo coincide exactamente com o dia e a hora em que a maioria das pessoas começa mais uma semana, num trabalho que, na maioria das vezes, odeia. Alguém ainda acredita em coincidências?
Em média, um ser humano vive cerca de 80 anos. Começamos a trabalhar aos 18 e, normalmente, reformamo-nos aos 67. Ou seja, a maior parte das nossas vidas será passada a trabalhar. Se é aqui que vamos despender a maioria do tempo que temos, porque não tentar que seja algo prazeroso e enriquecedor?
Quando era adolescente, acreditava que a verdadeira felicidade iria chegar quando terminasse o 12.º ano e, finalmente, atingisse a maioridade. A 5 de Junho de 2007, deu-se essa transformação e não podia estar mais radiante. Os meses foram passando e eu, já na faculdade, sentia-me rigorosamente na mesma. Foi aí que pensei que talvez ser maior de idade não fosse o suficiente, a verdadeira satisfação deveria estar no final do curso, quando começasse a trabalhar. A 11 de Julho de 2011, consegui atingir esse patamar. Lá estava eu, a trabalhar numa multinacional, cheio de orgulho. Uma vez mais, os meses foram passando e eu não sentia a tão prometida felicidade. “Será que tenho algum problema?”, pensava.
Em 2015, decidi parar com esta “brincadeira” e optei por criar a minha receita com os meus ingredientes. Já chegava de fazer o que todos fazem apenas porque todos o fazem. Caso não tivesse parado, provavelmente o próximo passo seria vasculhar pela felicidade no casamento e nos filhos (leia-se “assentar”). Como isso não iria acontecer, talvez quando eles fossem maiores de idade, saíssem de casa e eu me reformasse, aí sim, chegaria a tão aclamada felicidade. Ou então não. Esgotadas tantas hipóteses, o mais provável seria passar grande parte da minha velhice na igreja, na esperança de encontrar a felicidade do outro lado, quando a minha estadia neste mundo terminasse.
Fomos enganados. Apesar de sermos os grandes responsáveis pelas vidas que escolhemos viver, a culpa não é inteiramente nossa. Fizeram-nos acreditar que depois de determinado acontecimento, aí sim, a felicidade iria chegar. E, com isto, passámos uma vida inteira a adiar-nos e, consequentemente, a odiar-nos por nunca mais lá chegarmos. O futuro não faz promessas. No entanto, estamos, constantemente, a dobrar o cabo das tormentas, em busca da esperança de uma vida boa, que nunca mais chega.
É hoje que precisamos de ser felizes, não amanhã. O estado de espírito não deveria ser uma consequência, mas sim um dever. Precisamos cumprir quem somos. Esta é a única forma de salvaguardar o verdadeiro bem-estar.
Felizmente, podemos considerar duas hipóteses. Ou fazemos aquilo de que gostamos ou tentamos criar as condições para gostarmos daquilo que fazemos. Tudo se resume à forma como abordamos a realidade circundante. Está na hora de deixarmos de ser o rato a quem, por mais que corra, a roda não deixa sair do mesmo sítio. Mesmo aqueles que conseguiram correr mais do que os outros e, com isso, ganhar mais dinheiro e poder, mesmo esses “bem-sucedidos” não deixam de ser “ratos” como todos os outros. Não é por acaso que cerca de 60% dos presidentes executivos assume sofrer de ansiedade e depressão. Será que é o ter que define o sucesso de uma pessoa, ou será mais o “ser”?
Já chega disto. Está na hora de acordar e parar de menosprezar esta oportunidade que nos foi dada: a vida. Quando o jogo chegar ao fim, acabou-se. Terminaram todas as hipóteses que tínhamos de viver de uma forma plena. Mas existe uma solução para aliviar a estadia e aproximarmo-nos mais da nossa natureza. Podemos, por exemplo, começar por deixar de acreditar que trabalhar muito é bom e, de certa forma, um motivo para nos exibirmos junto de colegas e amigos. Como gostamos muito de dizer aqui em Portugal: “É óptima pessoa e bastante trabalhadora”. Será que trabalharmos imenso faz de nós melhores pessoas? Nem por isso.
Outra crença que devemos abandonar é o “síndrome da ocupação”. Existe esta ideia pré-concebida de que quanto menos tempo livre temos, mais interessante é a nossa vida. É difícil concordar com tamanho absurdo. Se pensarmos bem, desde quando é que uma agenda ocupada é sinónimo de uma vida preenchida? Nunca. Para finalizar, uma crença mais moderna: o work-life balance. À primeira vista, este estrangeirismo aparenta ser completamente inofensivo. Mas reparem bem, não deveria antes ser life-work balance? É a vida que se ajusta ao trabalho ou o inverso? Por mim, podemo-nos focar apenas no balance, pois, quando vivemos de forma equilibrada, percebemos que não existe distinção entre a life e o work, somos sempre a mesma pessoa.
Um estudo recente da Universidade de Harvard, a cargo do professor Shawn Achor, descobriu algo a que chamaram de “happiness advantage”. Este estudo revelou que o sucesso de uma função ou cargo depende 75%, não da inteligência ou do talento, mas sim do nível de felicidade de quem executa. Ou seja, quanto mais felizes estivermos, mais inteligentes, produtivos e criativos nos tornamos, logo a probabilidade de ganharmos mais dinheiro aumenta. Não é incrível? Mas o melhor de tudo isto é que também vivemos melhor e durante mais tempo!
Eu sei que isto parece demasiado bom para ser verdade. No entanto, esta “esmola” é tão grande que qualquer “pobre” pode confiar. Esta é a nossa missão: ser felizes. Existe uma frase que todos, pelo menos uma vez na vida, já dissemos: “Eu só quero ser feliz”. Então o que nos falta para lá chegar? Começar. Fazer as pazes com a segunda-feira. Aceitar que gostamos mais de determinadas áreas ou tarefas. Perceber que somos um ser humano e não um ter humano. Não viver para o fim-de-semana, para o fim do mês ou para o início das férias. Tentar, experimentar, cair, levantar e aprender. Ser responsáveis pelo que depende de nós e libertar o que não controlamos. Se não começarmos, nunca iremos saber se é possível. Vamos a isso?
P.S.: Segunda-feira, desculpa pelo que te fiz passar.