O que é a Cultura para os portugueses?
A revista bimestral Gerador e a consultora Qmetrics apresentaram na sexta-feira um estudo que pretende ser o barómetro anual da percepção dos portugueses sobre cultura.
Maior investimento em Cultura no Orçamento do Estado 2020, mais cinema na televisão do que horas passadas com um livro na mão, poucas visitas a um museu ou uma exposição de arte. Estas são apenas três conclusões do primeiro estudo que avalia qualitativamente a relação dos portugueses com a cultura e os seus hábitos de consumo. No “Estudo Anual sobre a Percepção da Cultura em Portugal”, realizado pela revista bimestral Gerador e pela consultora Qmetrics e que pretende ser um barómetro com periodicidade anual, foram entrevistados 1192 portugueses numa amostra aleatória estratificada por região, sexo e escalão etário. As entrevistas foram realizadas entre 8 de Março e 6 de Maio de 2019.
De acordo com o estudo, 81% dos portugueses querem ver um maior investimento do Orçamento do Estado 2020 na Cultura e 76,5% afirmam-se orgulhosos nas várias expressões da cultura nacional. Os jovens, entre os 15 e os 24 anos, classificam a Cultura em 6.º lugar na sua lista de prioridades, atrás de áreas como Saúde, Educação, Ambiente, Segurança e Ciência mas superando Justiça, Defesa Nacional, Entretenimento e Jornalismo. Já para os portugueses acima dos 64 anos, a Cultura surge no 4.º lugar da tabela.
Segundo o estudo, é a Literatura que reúne o maior consenso como sinónimo de Cultura: 99,1%. Mais de metade dos inquiridos (57,1%) respondeu que nos últimos seis meses leu um livro, percentagem apenas superada pelo consumo de filmes.
Depois de analisar os resultados, é possível concluir que 55,5% dos portugueses leram autores nacionais, sendo os mais referenciados José Saramago (9,4%), Eça de Queiroz (5,9%), José Rodrigues dos Santos (5,6%), Fernando Pessoa (5,1%), Sophia de Mello Breyner Andresen (3%), Miguel Sousa Tavares (2,2%), António Lobo Antunes (2%), Agustina Bessa-Luís (1,4%), Luís de Camões (1,2%) e Helena de Sacadura Cabral (1,1%).
Para a grande maioria dos portugueses — 90,4% —, o cinema enquanto representação cultural merece o 10.º lugar. À sua frente ficam Literatura, Língua Portuguesa, Museus, Teatro, Artesanato, Pintura, Música, Dança e Arquitectura; 61,1% dos portugueses dizem ter consumido cinema na televisão, 21,3% através da Internet e apenas 17,3% se deslocaram a uma sala de cinema.
Quanto a referências na representação seja teatro, cinema ou televisão, os inquiridos dão o pódio aos actores Ruy de Carvalho (10,7%), Eunice Muñoz (5,3%) e Diogo Morgado (5,1%), Nicolau Breyner (1,2%) e Joaquim de Almeida (0,9%). Na realização, a Manoel de Oliveira (9,3%) e António-Pedro Vasconcelos (5,3%).
A Música surge como a quinta área de maior relevo na Cultura e a segunda mais importante para os inquiridos da Grande Lisboa, 98,5%. No entanto, este é o sector apontado pela amostra como o mais exigente em termos de consumo: apenas 41,1% foram a concertos nos últimos seis meses.
Quanto às referências musicais, não houve problema em destacar artistas (foram referenciados mais de 200 nomes), com Xutos & Pontapés (16,5%), Tony Carreira (5,9%), Mariza (5,4%), Rui Veloso (3,2%), GNR (2,5%), Amor Electro (2,5%, única banda formada na presente década), The Gift (2,1%), Amália Rodrigues (2,1%), Pedro Abrunhosa (1,7%) e UHF (1,7%) a completar este top 10.
Nos últimos seis meses, menos de 40% dos portugueses visitaram um museu, foram a uma exposição ou ao teatro.
Ambas as instituições pretendem continuar a realizar o Barómetro Gerador Qmetrics. Na edição de 2020 tem como objectivo apresentar dados dos dois relatórios para poder comparar e analisar a evolução dos dados obtidos através de “um trabalho muito minucioso na análise das eventuais evoluções e regressões existentes.” No futuro, querem publicar os resultados no final do mês de Maio de cada ano.
O Gerador é uma plataforma de acção e comunicação que pretende produzir iniciativas que promovem os principais motores da cultura portuguesa. Também existe como uma revista bimestral, lançada pela primeira vez em 2014, com tema e designer diferente a cada número. Estes convidaram a Qmetrics, uma empresa de referência na área dos estudos de mercado em Portugal, para realizarem em conjunto o estudo mais ambicioso de sempre da cultura Portugal e criarem uma ferramenta que pudesse apoiar livremente autores, agentes culturais e líderes políticos e empresariais nas decisões relacionadas com as estratégias culturais.