Militares e civis assinam acordo de transição no Sudão

Anúncio foi recebido em festa nas ruas do país, depois de semanas de violência e tensão entre os grupos que lutaram pela queda do ditador Omar al-Bashir e os militares.

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Festejos nas ruas do país LUSA/MARWAN ALI

O conselho militar que governa o Sudão e a coligação de opositores chegaram a um acordo de partilha de poder até à realização de eleições. O anúncio foi recebido com manifestações de alegria nas ruas por milhares de pessoas.

Os dois lados negociaram na capital, Cartum, nos últimos dois dias, e concordaram em “estabelecer um conselho soberano em rotatividade entre os militares e os civis, por um período de três anos ou pouco mais”, anunciou o mediador da União Africana, Mohamed Hassan Lebatt.

O acordo prevê também a criação de um governo de tecnocratas e a abertura de uma investigação “transparente e independente” aos casos de violência das últimas semanas no país.

Para que o processo decorra sem outros obstáculos, as duas partes concordaram em adiar o estabelecimento de um conselho legislativo. Antes do acordo anunciado esta sexta-feira, e antes de as forças de segurança sudanesas terem reprimido um protesto pacífico, há um mês, esse conselho legislativo deveria ser ocupado por dois terços de deputados da oposição.

Mas a morte de dezenas de pessoas que exigiam a transição de poder dos militares para os civis, na sequência da queda do ditador Omar al-Bashir, em Abril, levou ao fim daquelas negociações.

Nas ruas de Omdurman, do outro lado do rio Nilo, milhares de pessoas comemoraram o anúncio do acordo com gritos de apoio aos civis. Houve música, buzinas e bandeiras sudanesas desfraldadas.

“Este acordo abre portas à formação das instituições da autoridade de transição, e esperamos que seja o início de uma nova era”, disse à Reuters Omar al-Degair, um dos líderes da oposição.

“Gostaríamos de garantir a todas as forças políticas, aos movimentos armados e a todos os que participaram na mudança, que este acordo será abrangente e não excluirá ninguém”, disse o general Mohamed Hamdan Dagalo, o n.º 2 do Conselho Militar de Transição.

“Agradecemos aos mediadores da União Africana e da Etiópia pelos seus esforços e paciência. E também agradecemos aos nossos irmãos das Forças para a Liberdade e Mudança pela sua atitude positiva”, disse o mesmo responsável, que lidera as forças acusadas de reprimirem os protestos pacíficos.

Médicos ligados à oposição dizem que mais de 100 pessoas foram mortas, enquanto o governo fala em 62.