O PSD quer jovens nas listas para quê?
O problema está, desde o início, no mesmo lugar: em sabermos o que quer o PSD e como poderá jogar em equipa sob o comando de um capitão tão flexível como uma barra de aço.
O PSD de Rui Rio vai avançar com a mais ousada proposta de lista de deputados em muitos anos de legislativas. Num tempo de evidente esgotamento do pessoal dos partidos que têm mandado no país nas últimas décadas, trocar nomes conhecidos mas gastos por jovens desconhecidos e inexperientes mas promissores seria à partida uma boa notícia. Mas não o é por completo. Porque, mais do que a vontade, a ousadia, o reformismo ou o desejo de regeneração do PSD, a escolha de jovens para cabeça-de-lista resulta de uma condenação.
Rui Rio não muda por pensar na bondade da mudança, muda apenas porque não lhe restam alternativas num partido impotente para mobilizar alguns dos seus melhores quadros, estafado por dois anos de permanentes querelas internas e incapaz de desenhar um rumo que lhe garanta espaço face a um PS ecuménico que lhe disputa o eleitorado.
Colocar à frente das listas distritais jovens promissores ou já com provas dadas na vida pública, profissional ou partidária seria um acto de coragem e de rebeldia face ao que Rui Rio designa por “crise do regime” se essas nomeações se enquadrassem num programa claro. Sem que esse programa se perceba, tanto faz ter Hugo Carvalho no Porto como Rui Rio, tanto vale indicar Filipa Roseta para Lisboa como David Justino.
O desgaste que a persistente e intencional guerra de facções internas provocou na liderança do partido, com óbvios danos para a sua imagem, poderá ser travado com a “limpeza” das listas, mas não impedirá o PSD de permanecer como um partido ensosso, sem alma, incapaz de parar o PS que se alastra como uma mancha de óleo da esquerda do Bloco até ao centro-direita.
As escolhas de Rui Rio são “um risco” e pode ser até que sejam um risco menor do que insistir no baronato velho e relho do PSD. Mais do que caras novas, é provável que o rejuvenescimento pretendido imponha novas definições às prioridades, novas formas de actuar (menos quezilentas e mais abertas ao debate) e valores que as novas gerações interpretam melhor. Não há também razão para duvidar que as escolhas feitas são uma garantia para o futuro.
A grande questão dos jovens empurrados para liderar as listas dos baluartes laranja não está por isso na estratégia de Rio nem nas escolhas concretas que fez. O problema está, desde o início, no mesmo lugar: em sabermos o que quer o PSD e como poderá jogar em equipa sob o comando de um capitão tão flexível como uma barra de aço.