Felipe Oliveira Baptista torna-se director criativo da Kenzo

O criador português, que foi durante anos director criativo da Lacoste, está agora à frente da marca francesa de luxo.

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Nuno Ferreira Santos

Felipe Oliveira Baptista é o novo director criativo da marca francesa de luxo Kenzo, pertencente ao grupo LVMH, revelou esta segunda-feira a empresa, em comunicado. O criador de moda português esteve durante oito anos à frente da Lacoste, de onde saiu em 2018.

“Kenzo é liberdade e movimento contagiantes”, afirma Filipe Oliveira Baptista, num comunicado divulgado no início da semana pelo grupo francês. À publicação Women's Wear Daily (WWD), citada pelo Business of Fashion, diz que a “celebração constante da natureza e da diversidade cultural sempre esteve e mantém-se no coração da marca”. E acrescenta: “Estes dois temas nunca me pareceram mais relevantes e convincentes do que hoje e serão instrumentais para o futuro da Kenzo.”

“Tudo o que [Kenzo] Takada fez foi cheio de alegria, elegância e de um senso de humor frio e atrevido”, comenta ainda o criador em comunicado, referindo-se ao fundador da casa de costura.

Felipe Oliveira Baptista assumirá “de imediato” o cargo anteriormente ocupado por Carol Lim e Humberto Leon desde 2011, adianta o grupo francês. A dupla norte-americana apresentou a sua última colecção pela Kenzo, para a Primavera/Verão de 2020, em Junho, em Paris. O criador português vai agora “escrever uma nova página na história da casa fundada em 1970”, garante o grupo.

O Business of Fashion aponta como, sob a direcção criativa de Baptista, a Lacoste ultrapassou os dois mil milhões de euros em receitas anuais, citanto Serge Carreira, especialista em gestão de luxo da faculdade Sciences Po Paris: “[Felipe Oliveira Baptista] redefiniu a imagem da Lacoste, transformando-a numa marca mais de designer.” Segundo a Vogue, o criador foi responsável pela evolução da marca de ténis para uma marca digna de passerelle, “transportando um ar desportivo e ambientalista para as suas colecções”. A colaboração com a marca Supreme foi um dos últimos projectos que o português acompanhou na Lacoste.

Conteúdo e produtos de sucesso

Em comparação, a Kenzo tem actualmente um valor anual de receitas mais modesto, de 400 milhões de euros, segundo o mesmo meio de comunicação. O Business of Fashion sublinha como a Kenzo tem conseguido adoptar o modelo cada vez mais popular de distribuição de roupa através de lançamentos (normalmente conhecidos por drops) de pequenas colecções de peças com maior frequência, mas como ainda assim “mantém-se no lado mais baixo do universo LVMH”. 

Segundo a publicação, “o modelo de distribuição centrado nos drops” que está a infiltrar a moda, obriga os criadores e comerciantes a criar um feed constante de conteúdo e produtos de sucesso”. A marca de roupa de luxo lançada em Maio por Rihanna, sob a alçada da LVMH, segue esta mesma lógica, com lançamentos mensais de novas peças. 

“O que nos fez escolher Felipe, acima de outros candidatos, foi o facto de ter uma abordagem artística global”, justifica a directora-executiva da Kenzo, Sylvie Colin, à Women's Wear Daily, citada pela Vogue. “Ele tem uma visão criativa de 360º e irá supervisionar a direcção artística a nível global, lidando tanto com as colecções como com a comunicação”, diz, acrescentando ainda que o ADN do criador é compatível com o da marca francesa: “Tem a ver com uma certa sofisticação diária, silhuetas que são ao mesmo tempo chique e desportivas.”

O presidente do grupo Louis Vuitton Moët Hennessy (LVMH), Sidney Toledano, aponta, no mesmo comunicado, que “o talento de Felipe Oliveira, como designer, o seu domínio do vestuário e as suas raízes pessoais com origem em culturas muito distintas” constituem “activos reais para dar uma nova energia criativa à Kenzo”.

O convite para fazer parte do grupo LVMH acontece um ano depois de Felipe Oliveira Baptista ter saído da Lacoste. Nascido nos Açores e radicado em Paris, Felipe Oliveira Baptista, de 44 anos, chegou a fundar a sua própria marca em 2003, que mais tarde suspendeu. Entretanto mereceu-lhe os prémios Hyères, em 2003 e ANDAM, em 2003 e 2005. Em 2012, o Museu do Design e da Moda (Mude) teve uma exposição dedicada ao criador português — à época a mais vista de sempre do museu.

A Kenzo foi fundada em 1970, em Paris, pelo designer de moda japonês Kenzo Takada, e foi adquirida em 1993 pelo grupo LVMH, contando actualmente com 525 trabalhadores. O grupo de marcas de luxo integra outras casas como Givenchy, Fendi, Marc Jacobs, Louis Vuitton, Christian Dior e Loewe.