Gracejos, desavenças e nada de decisões no arranque do G20

Trump brincou com Putin sobre interferência nas eleições, May recebeu líder russo com cara de poucos amigos e Macron recusa assinar documento sem referência ao Acordo de Paris. Conversas sobre reforma da OMC e alterações climáticas sem progressos.

Foto
Donald Trump cumprimenta o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman EPA/BANDAR ALAJLOUD

No arranque do G20, em Osaca, no Japão, foram os encontros paralelos entre os vários líderes mundiais que concentraram todos os holofotes. A sessão inaugural da cimeira não trouxe quaisquer progressos à reforma da Organização Mundial de Comércio (OMC), nem serviu para os representantes das vinte maiores economias do mundo – e outros convidados – encontrarem uma resposta unificada sobre o combate às alterações climáticas, políticas migratórias ou segurança. 

Donald Trump e Vladimir Putin foram os protagonistas de uma série de reuniões de líderes, à porta fechada, que animaram o ambiente tenso, enquanto todos esperam pelo desfecho do importante encontro entre o Presidente norte-americano e o seu homólogo chinês, agendado para sábado – do qual se conhecerá o próximo capítulo da guerra comercial entre Washington e Pequim.

Com os jornalistas e os fotógrafos à caça de apertos de mão insólitos, declarações descontraídas, conversas indiscretas e trocas furtivas de olhares, foi Trump quem ofereceu aos curiosos o momento mais controverso. Antes de um encontro com Putin, onde iriam debater “comércio”, “desarmamento” e “um pouco de proteccionismo, mas de uma forma positiva”, o chefe de Estado norte-americano gracejou quando lhe questionaram se iria exigir ao líder russo que não interfira nas presidenciais de 2020.

“Claro que vou! Por favor, não se intrometa nas eleições. Não se intrometa nas eleições, Presidente”, suplicou, ironicamente, o Presidente dos EUA, entre sorrisos. Ao seu lado, Putin também sorriu.

Foto

Mas os dois estiveram envolvidos em dois outros momentos atípicos, em Osaca. Trump mandou o presidente do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, sentar-se no seu lugar, com um movimento brusco, que a imprensa espanhola não soube interpretar, e Putin recebeu da primeira-ministra britânica, Theresa May, um dos mais gélidos apertos de mão desta sexta-feira, por causa dos envenenamentos do ano passado em Salisbury, no Reino Unido.

“A primeira-ministra disse [ao Presidente russo] que a utilização de um agente químico nervoso nas ruas de Salisbury fez parte de um padrão mais amplo de um comportamento inaceitável. [May] sublinhou que o Reino Unido está aberto a um relacionamento diferente, mas que, para isso acontecer, o Governo russo tem de escolher um caminho diferente”, explicou Downing Street, em comunicado.

Pouca sinergia

Polémicas à parte, na primeira sessão plenária, realizada esta sexta-feira, foram poucos os que discordaram que as tensões regionais – nomeadamente no Golfo Pérsico –, a guerra comercial entre Estados Unidos e China e os sinais de desaceleração económica estão a prejudicar o fluxo de trocas e o desempenho financeiro dos seus respectivos países. 

Foto

A forma de lidar com esses desafios é que não mereceu uma resposta unida de todos os participantes, apesar dos esforços do anfitrião Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês. Em cima da mesa há o desejo de reforçar a linguagem pró-comércio livre e antiproteccionismo e uma proposta de reforma da OMC, que está a ser trabalhada, em conjunto, por EUA, China, Japão e União Europeia. Mas que ainda não tem pernas para andar.

“O trabalho em volta dos documentos conjuntos está em curso e não está a ser nada fácil”, assumiu uma representante da delegação russa à Reuters.
Outro dos pontos de bloqueio da cimeira está relacionado com o Acordo de Paris de 2015. Emmanuel Macron recusa assinar qualquer documento que não faça referência ao compromisso sobre as alterações climáticas e à importância de o cumprir. 

Foto

A linha vermelha do Presidente francês choca, no entanto, com a posição de Trump, que retirou os EUA do acordo e que foi o único membro do G20 que, na última cimeira, em Buenos Aires (Argentina), não aceitou a sua irreversibilidade.

“Os norte-americanos mantêm uma linguagem muito dura sobre a mesa”, afirmou Macron, num encontro à margem da cimeira, em Tóquio. “Se não falarmos no Acordo de Paris e se, para encontrarmos um compromisso entre os 20, não formos capazes de defender as ambições climáticas, a França ficará de fora”.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários