Paulo Campos diz que Salgado pediu a Sócrates que não vetasse venda da Vivo
Ex-secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e Comunicações esteve esta quinta-feira a ser ouvido na instrução da Operação Marquês.
O ex-secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e Comunicações, Paulo Campos, afirmou esta quinta-feira num depoimento realizado no âmbito da instrução da Operação Marquês, que o banqueiro Ricardo Salgado se deslocou à residência oficial do primeiro-ministro para pedir a José Sócrates que não usasse o veto para impedir a venda por parte da Portugal Telecom de metade da operadora brasileira Vivo à Telefónica.
O pedido, contou Paulo Campos num depoimento solicitado pela defesa de Sócrates e que demorou cerca de cinco horas, ocorreu pouco antes da Assembleia Geral da Portugal Telecom, a 30 de Junho de 2010. Paulo Campos confirmou que nessa manhã, bem cedo, Sócrates convocou alguns membros do Governo para decidir se o executivo usava a golden share que tinham na PT para impedir o negócio e que quando a reunião já estava a terminar apareceu Salgado.
Sócrates ausentou-se para falar com o banqueiro a sós, mas quando este saiu Paulo Campos ainda estava em São Bento. O primeiro-ministro contou-lhe então que Salgado lhe pedira para não usar o veto, mas como a decisão já tinha sido tomada na reunião, Sócrates apenas lhe comunicou que iria ser usado o veto.
Duas reuniões
O Ministério Público refere as duas reuniões na acusação, mas alega que o pedido de Salgado foi o oposto: o banqueiro iria fazer o possível para que a proposta da Telefónica fosse rejeitada, mas “se tal não fosse possível, o Estado votaria contra, actuando as prerrogativas concedidas as acções da categoria A de que era titular e fazendo rejeitar a oferta”.
O ex-secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas, ainda hoje próximo do ex-primeiro-ministro, nega esta versão e garantiu que muitos dos accionistas da PT, incluindo o BES liderado por Salgado, ficaram zangados com a decisão do Governo, contrariando a tese da acusação de que esta posição tinha sido concertada nos bastidores com o banqueiro.
Verdade é que apesar das resistências iniciais do Governo - que argumentava que era necessário encontrar outro investimento estratégico no Brasil - o negócio acabou por ser aprovado um mês e meio mais tarde, depois da Telefónica subir a oferta de 7,15 mil milhões de euro para 7,5 mil milhões de euros. Mas com a realização de pagamentos diferidos que faziam, segundo o Ministério Público, que a mais-valia real da segunda proposta ficasse, no máximo, em mais 200 milhões de euros. Nessa altura, já estavam lançadas as bases da entrada da PT na Oi.
Paulo Campos contestou igualmente que Sócrates se tenha movimentado na sombra para impedir que a OPA lançada, no início de 2006, pela Sonae (proprietária do PÚBLICO) sobre Portugal Telecom fosse chumbada. Defendeu que o Governo foi de facto neutral como assumiu publicamente e que a OPA estava votada ao fracasso devido ao valor oferecido pelas acções e, por isso, nunca passaria.