João Félix no “mercado de futuros”

Qual é o valor justo a pagar pelo passe de um futebolista?

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LUSA/FERNANDO VELUDO

Qual é o valor justo a pagar pelo passe de um futebolista? A história recente tem-nos presenteado com múltiplas respostas a esta pergunta, sem que seja possível encontrar um denominador comum. Há jogadores e jogadores, assim como há negócios e negócios. E há exemplos de sucesso e fracasso desportivo suficientes para defenderem teses contraditórias. O que não há é quem esteja disposto a fazer um esforço financeiro colossal sem uma perspectiva de retorno.

Vem esta discussão a propósito da iminente transferência de João Félix para o Atlético Madrid. Em cima da mesa está uma exigência de 120 milhões de euros (valor da cláusula de rescisão) a troco de um talento que num abrir e fechar de olhos passou de promessa a certeza. A ascensão galopante de um avançado de 19 anos em contexto de exigência máxima fez eco na bolsa de valores e rapidamente o empurrou para a galeria das excentricidades financeiras, daquelas loucuras que até há poucos anos só faziam sentido no universo de um qualquer jogo de computador.

Mas olhemos para o investimento com a racionalidade que se impõe. Do ponto de vista do equilíbrio da balança, o Atlético irá compensar a compra do passe de Félix com a venda do passe de Griezmann, a sua estrela maior, de saída para o Barcelona. Poderia usar essa folga para reforçar mais do que uma posição do plantel ou até para reduzir o passivo financeiro? Naturalmente. De todo o modo, não deixa de haver uma mitigação do esforço. Do ponto de vista desportivo, parece claro que o avançado português foi o escolhido para desempenhar o papel do francês no “onze” de Diego Simeone, o que significa que os “colchoneros” apostarão (quase) todas as fichas na rápida afirmação da (ainda) jóia do Benfica.

Neste rosário entrarão também as contas de uma futura venda e, no limite, até de uma mais-valia. Sob esse prisma, lançar dados milionários em nome de um jovem de inegável classe acaba, muitas vezes, por ser um investimento mais “seguro” do que num jogador feito, com menor margem para gerar um negócio futuro. Com as devidas diferenças, foi o mesmo raciocínio que conduziu à decisão do PSG de contratar Kylian Mbappé (180 milhões de euros) ou do Barcelona de assegurar os serviços de Ousmane Dembélé (105 milhões) e, mais recentemente, Frenkie de Jong (75 milhões).

É obviamente um risco, como são todas as decisões, no mundo do futebol e fora dele. Um risco exponenciado pelos milhões de euros que o acompanham, mas reduzido tanto quanto possível pela aturada observação que foi feita à performance do jogador. Foi graças a esses relatórios detalhados que a direcção do Atlético se deixou convencer, confiante na capacidade de João Félix continuar a mostrar em Espanha a enorme maturidade e qualidade que revelou em Portugal e na Liga Europa.

A exibição categórica diante do Eintracht Frankfurt, coroada com um hat-trick em plenos quartos-de-final da competição, poderá ter sido a onda que varreu as dúvidas que ainda subsistiam. O nível de exigência subiu em flecha e o avançado respondeu com autoridade. Quer isto dizer que está pronto para as agruras da Liga espanhola? Não necessariamente, mas não deixa de ser um forte indicador de uma resposta capaz em cenário de pressão acrescida.

Do lado de cá, podemos discutir se o timing é o adequado ou se o avançado está preparado para as expectativas que automaticamente disparam sempre que começam a voar maços de notas de uma conta bancária para várias outras. É legítimo pensar que uma oportunidade destas só bate à porta uma vez na vida, tal como é lícito defender que mais uma época em Portugal faria de João Félix um jogador mais preparado para outros voos.

No fundo, apenas ele conseguirá resolver esta equação, sabendo que só com rendimento poderá conquistar aquela parte do país desportivo que lhe apontou o dedo na estreia pela selecção A e continuar a convencer aqueles que se congratulam por verem mais um português a aproximar-se do topo da pirâmide do futebol.

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