Neozelandês que partilhou ataque a Christchurch condenado a 21 meses de prisão
O homem já tinha um historial de comportamentos contra a comunidade muçulmana e não mostrou qualquer empatia pelas vítimas, informou o tribunal onde decorreu o julgamento.
O extremista neozelandês Philip Arps, que partilhou o vídeo com a transmissão em directo do ataque a duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, foi condenado esta terça-feira a 21 meses de prisão.
O homem de 44 anos, que partilhou o vídeo nas redes sociais e distribuiu as imagens dos assassínios a pelo menos 30 pessoas, não só não demonstrou empatia pelas vítimas, como já tinha um historial de ofensas contra a comunidade muçulmana.
O directo do ataque, entretanto eliminado do Facebook, mostrava um homem armado com uma semiautomática a entrar numa das mesquitas e abrir fogo sobre os que estavam em oração, abandonando depois o local num carro.
Quando foi questionado pelas autoridades acerca do vídeo, Philip Arps não mostrou qualquer arrependimento em relação aos comentários que fez contra a comunidade muçulmana, disse o juiz do Tribunal de Christchurch, Stephen O'Driscoll.
O tribunal acrescentou ainda que Arps pretendia modificar o vídeo, para lhe acrescentar uma mira e a contagem dos mortos. Além disso, o autor do vídeo descreveu as imagens como “espectaculares”, escreve o jornal New Zealand Herald.
Segundo o juiz, o homem de 44 anos comparou-se ao nazi Rudolf Hess.
O registo e partilha do momento do ataque que fez 51 mortos foi por isso considerado um crime de ódio. “Foi um crime de ódio contra a comunidade muçulmana”, concluiu o juiz, acrescentando que a partilha do vídeo foi “particularmente cruel”, cita a BBC.
Soube-se ainda que Philip Arps foi também condenado por em 2016 ter deixado uma cabeça de porco na mesquita Al Noor — uma das mesquitas que foi alvo do ataque a 14 de Março.
Apesar de se ter declarado culpado quando foi detido, quatro dias depois do ataque, Arps vai recorrer da decisão. O advogado do neozelandês argumenta que Arps devia ter sido julgado apenas pelos seus actos e não pelas suas visões políticas. “O tribunal devia julgar com base no que fez e já reconheceu ter feito e não nas suas crenças”, argumentou o advogado Anselm Williams, escreve o jornal Guardian.
Esta é a primeira condenação conhecida após o ataque. Quanto ao autor o ataque, o australiano Brenton Tarrant, que se declarou inocente em relação às 92 acusações, o julgamento só deve acontecer no próximo ano, diz a BBC.
Christchurch é a maior cidade da Ilha Sul da Nova Zelândia e a terceira maior cidade do país com cerca de 376.700 habitantes. O ataque às duas mesquitas foi classificado pela primeira-ministra, Jacinda Ardern, como um dos dias “mais negros” da História do país.