Debater o futuro da indústria da beleza é a proposta da Beauty Summit, que vai juntar profissionais da área da estética, cosmética e cabelo em Lisboa, neste domingo e segunda-feira, na Escola de Tecnologias, Inovação e Criação (ETIC).
De acordo com Bruno Sousa, presidente da Beautyland, que organiza o evento em parceria com a Exponor Exhibitions, o objectivo é “juntar as várias associações, os vários profissionais e colocar as várias marcas, que são concorrentes, no mesmo espaço. A concorrência pode ser muito útil para este mercado”, explica ao PÚBLICO.
Além da vertente de networking, “o que vai ser falado é a necessidade da formação, a constante evolução, que é extremamente importante; a evolução da tecnologia em prol da beleza; e, por último, a sustentabilidade que é uma tendência muito grande que já se reflecte no consumidor final – na procura de produtos e na procura de cosméticos que tenham uma forte componente de defesa do nosso planeta, que sejam vegan e sustentáveis”, acrescenta Bruno Sousa. Para discutir estes temas, foram convidados vários oradores, tanto independentes como ligados a marcas de beleza.
Um dos oradores é Nazaré Nunes, presidente Associação Nacional de Esteticismo Profissional (ANEP). Segundo a mesma, a maior tendência no campo da estética é a crescente presença masculina: “Há cada vez mais homens a exercer a profissão, seja de esteticista, seja de massagista e há muito mais consumidores homens a recorrer à estética – a todo o tipo de tratamento estético e não apenas a massagem de relaxamento. Esse é o grande boom”, refere ao PÚBLICO.
Outra tendência do mundo da estética é a preocupação com o ambiente. “Há cada vez mais uma tendência para evitar os plásticos, recorrer às espátulas de madeira, os cotonetes em papel, voltou-se a usar toalhas laváveis e não o ‘usa e deita fora’ dos plásticos; o uso da cosmética orgânica…há uma tendência muito grande para uma estética mais sustentável e procuramos passar essa mensagem também aos utentes. O consumidor está cada vez mais sensível a estes factores”, continua a profissional.
O mesmo acontece nos cabeleireiros. De acordo com João Semedo, presidente do Clube Artístico dos Cabeleireiros de Portugal, “há um cuidado muito grande com as lavagens da cabeça – tem-se poupado muito mais na água com aquelas adaptações nas torneiras e também uma coisa que eu tenho notado a favor disto é que andou-se alguns anos a tentar incutir as toalhas descartáveis que são um desperdício grande porque são feitas com materiais que depois não são reaproveitados e o que está a acontecer é que os profissionais voltam a utilizar a toalha normal de pano, turca, mas lavando com detergentes menos poluentes, menos abrasivos”, conta ao PÚBLICO.
Tecnologias e equipamentos
No que respeita a inovação, para João Semedo, “as novas tecnologias não nos afectam em nada porque é uma profissão que tem tudo a ver apenas com as mãos das pessoas, com o profissionalismo das pessoas”, diz. No entanto, aponta a relevância das redes sociais no que respeita à divulgação de trabalhos. “Continuamos com as mesmas máquinas de cortar cabelos, com os pentes, com as tesouras”, completa.
Já no caso da estética, existe uma preocupação com os novos equipamentos que exigem “que os profissionais sejam qualificados para os operar porque são equipamentos mais actuantes e, portanto, mais perigosos se forem mal utilizados. É urgente voltar a ser exigida uma qualificação profissional: as pessoas hoje utilizam coisas que são muito úteis e muito eficientes, mas que podem ser perigosas se forem mal-executadas”, disse a presidente da ANEP.
A questão da qualificação profissional referida por Nazaré Nunes é “sensível” para os profissionais dos cuidados de beleza, corporais e de bem-estar. Isto porque desde 2011 deixou de ser necessário a obtenção de uma carteira profissional para desenvolver qualquer uma destas actividades.
O presidente da Beautyland avança que este não vai ser um tema no evento. No entanto, João Semedo, à semelhança de Nazaré Nunes, demonstra desagrado. “Eu gostaria que a minha profissão evoluísse no sentido de voltarmos a ter as carteiras profissionais que nos foram confiscadas, mas isso é um problema político”, lamenta, acrescentando que “qualquer pessoa que esteja infeliz na sua profissão pode ir para barbeiro ou para cabeleireira e não tem de se sujeitar a um exame nem a uma fiscalização”. O dirigente alerta ainda para a formação, acrescentando que actualmente apenas 20% das escolas são reconhecidas. “É triste ver uma profissão que tem uma arte tão bonita, mas depois não haver quem fiscalize e quem defenda que a nossa profissão seja melhor regulamentada”, conclui.