Aeroporto saudita atingido por míssil de rebeldes houthis
Pelo menos 26 civis ficaram feridos. Este ataque é a prova que faltava de os rebeldes terem desenvolvido capacidades militares aéreas contra a coligação liderada pela Arábia Saudita.
Os rebeldes houthis do Iémen lançaram um míssil contra o aeroporto saudita de Abha, ferindo pelo menos 26 civis, avançou esta quarta-feira a coligação militar liderada pela Arábia Saudita. É o mais recente e duro ataque contra território saudita nas últimas semanas, já encarado como estratégia de retaliação dos rebeldes contra os contínuos bombardeamentos sauditas contra civis no Iémen.
Oito dos feridos foram transferidos para hospitais, os restantes receberem tratamento médico de primeiros socorros, explicou o porta-voz da coligação, coronel Turki al-Malki, em comunicado divulgado pela agência de notícias saudita.
A coligação militar não avançou qual o tipo de míssil usado, mas considerou que o ataque prova que os houthis adquiriram “armas avançadas ao Irão”. E garantiu que tudo fará para deter os “terroristas” e proteger a população civil saudita de novos ataques.
Na segunda-feira, as defesas sauditas interceptaram dois drones que se dirigiam para a cidade saudita de Khamis Mushait, a este da província de Abha e onde está a base militar de onde partem os consecutivos bombardeamentos sauditas no Iémen, muitos dos quais contra civis.
E, em Maio, a força área saudita abateu um outro drone que se preparava para atacar o aeroporto de Jizan, no sul da Arábia Saudita, e um outro que se dirigia para o aeroporto de Najran. Outros dois drones houthis atingiram dois oleodutos sauditas, causando breves disrupções no fornecimento petrolífero da zona.
Ao mesmo tempo, milícias houthis foram bem-sucedidas a atravessar a fronteira com a Arábia Saudita, conquistando mais de 20 posições na província saudita de Najran. Deram-se intensos confrontos e os rebeldes anunciaram a morte de mais de 200 soldados da coligação às suas mãos.
“Os houthis estão a dizer que este tipo de ataques são a retaliação pela escalada dos ataques da Arábia Saudita contra áreas civis nos últimos quatro anos”, explicou o jornalista da Al-Jazira Mohammed al-Attab, sublinhando que o incidente prova que a coligação falhou no objectivo de eliminar as capacidades aéreas dos rebeldes. “[A coligação] matou tantos civis, esta guerra brutal até teve como alvos casamentos, funerais, mercados e hospitais”.
Em 2015, os houthis levaram a cabo uma ofensiva militar para depor o então Presidente iemenita, Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi, e expulsar do Iémen as forças leais ao antigo chefe de Estado, Ali Abdullah Saleh, afastado em 2011 – governava o país há 32 anos. A Arábia Saudita criou uma coligação militar para combater os houthis, aliados do Irão, e interveio militarmente no país com o apoio tácito dos Estados Unidos com o objectivo de repor o Governo deposto.
A guerra no Iémen é apenas mais uma peça no tabuleiro pelo controlo geopolítico e disputa de influência no Médio Oriente entre o Irão e a Arábia Saudita, inimigos desde a Revolução Iraniana de 1979, que depôs o xá Mohammad Reza Pahlevi e instaurou a República Islâmica.
No decorrer da ofensiva inicial, os houthis capturaram armamento vário, entre os quais aviões e baterias anti-aéreas, disputando a hegemonia aérea com a coligação saudita e seus aliados no terreno. A força aérea dos houthis conseguiu abater drones drones norte-americanos, entre os quais um MQ-9 Reaper, que apoiavam a coligação saudita com operações de monitorização e vigilância.
Porém, a força aérea elencou como um dos seus principais objectivos militares a destruição total do poder aéreo dos rebeldes, conseguindo-o nos últimos anos. Mas agora a situação mudou. Com estes novos ataques, os houthis demonstram ter conseguido recuperar parcialmente a sua capacidade ofensiva área.
A guerra no país já causou directamente a morte a mais de sete mil civis, com outros 11 mil feridos. Não menos de 65% das mortes foram atribuídas a bombardeamentos da coligação. E mais de 20 milhões de civis têm sofrido com o bloqueio marítimo saudita, com muitos, entre os quais crianças, a morrerem de fome e doenças, entre as quais cólera, visto os alimentos e medicamentos serem escassos no país.