Exposição
Van.ity: vaidade, graffiti e carrinhas. As fotografias de Maze no Becuh
Nas fotografias de André Neves, se as carrinhas não estão grafitadas, provavelmente o cenário está. E se não está nenhum dos dois… tem potencial para estar. A partir de 8 de Junho, chegam ao Becuh, no Porto, fotografias “à volta dos cenários nova-iorquinos mais urbanos”, onde carrinhas de diversos modelos assumem um papel principal, “sempre com o graffiti muito presente”. As imagens da exposição Van.ity são uma pequena parte do que resultou da jornada de André nos Estados Unidos, em Março, de onde trouxe mais de 3500 fotografias de “cartazes, texturas, paredes, cores, pessoas”, entre muitos outros elementos que fazem de Nova Iorque a cidade "visualmente estimulante" que é.
Também conhecido no mundo da música, onde assina como Maze, o artista de 40 anos dá cartas no mundo da fotografia. Em conversa telefónica com o P3, conta que “o gosto pela fotografia e artes visuais sempre estiveram presentes” na sua vida. Primeiro, o fascínio de criança ao ver fotografias a preto e branco guardadas nas gavetas de casa; depois, mais a sério, quando ingressou na Escola Artística de Soares dos Reis, no Porto, e na Escola Superior de Artes e Design. “Aí sim, veio o gosto e o interesse mais apurado pela fotografia, que permaneceu ao longo da minha vida, de forma um pouco auto-didacta”, conta. E, com o tempo foi "apurando" técnicas e temáticas.
Antes de aparecerem os telemóveis e a possibilidade de fotografar e partilhar “em tempo real”, era no Fotolog que André compilava as fotos que ia tirando. Os temas eram “mais ou menos os mesmos” que ainda agora partilha na sua conta de Instagram, onde é seguido por mais de 52 mil pessoas: “Detalhes, pormenores, texturas, enquadramentos — por vezes invertidos e descontextualizados para criar outra perspectiva a quem está a ver” —, as fotografias que tira são “sempre muito gráficas” e resultam do exercício de “olhar com outros olhos”.
Em Nova Iorque, encontrou uma série de elementos que cabiam nas suas temáticas: carrinhas, carros estacionados isoladamente, arranha-céus e uma grande variedade de cores. Não parou de clicar: "Registei mesmo muito através deste exercício em que me obrigo a estar atento quase todos os segundos", refere. Mas quando foi convidado para mostrar as suas fotografias no Becuh, escolheu as imagens de carrinhas grafitadas. Afinal, "é uma exposição numa loja de graffiti", justifica.
A exposição de “15 a 20 fotografias” — que também vão estar à venda — vai estar no espaço dedicado à arte de rua de 8 a 29 de Junho, acompanhada de uma pintura em stencil, também assinada pelo artista. O nome da exposição é “um trocadilho entre a palavra van [carrinha] e vanity [vaidade], que tem a ver com o graffiti e o ego de expor, estar exposto, pintar e ser visto”, explica André. “A essência do graffiti e como ele surge nos EUA é precisamente para que o nome circule, para que aquela identidade seja conhecida.” É a “vaidade subjacente” ao querer ser reconhecido — a mesma que André vai sentir quando as carrinhas de Nova Iorque chegarem às paredes do Becuh.