Os Verdes estão disponíveis para negociar alianças, mas com condições
A bancada ecologista do Parlamento Europeu diz que não vai desaproveitar a onda verde que se estendeu por toda a Europa. Quem quiser governar a Europa vai ter de negociar com eles, mas só depois de se comprometer com a redução das emissões de carbono muito para além das metas actuais.
O assunto não podia ser mais sério, e a ocasião mais grave. Mas quando apareceu sozinha no palco do hemiciclo de Bruxelas, depois das primeiras projecções oficiais confirmarem um resultado histórico para os partidos Verdes na Europa, a alemã Ska Keller não conseguia apagar o enorme sorriso da cara, nem disfarçar um certo arrebatamento. “Uma onda verde estendeu-se realmente por esta Europa fora”, afirmou a líder da bancada ecologista do Parlamento Europeu, consciente do novo poder conquistado com votações impressionantes na Alemanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Finlândia, Dinamarca, Irlanda e Reino Unido.
O efeito do crescimento da bancada verde no Parlamento Europeu — que na próxima legislatura terá 69 eurodeputados, mais 17 do que agora — sentiu-se de imediato. Um atrás do outro, os cabeças de lista das grandes famílias políticas do Partido Popular Europeu, Socialistas & Democratas e Aliança dos Democratas e Liberais que aspiram à presidência da Comissão Europeia, vieram ao palco pôr o combate “ambicioso” às alterações climáticas no topo das prioridades do seu programa político para a próxima legislatura.
Na resposta, os dois cabeça de lista dos Verdes, Ska Keller e Bas Eickhout, impuseram as suas condições para a negociação de alianças parlamentares: querem compromissos claros e propostas concretas para uma redução significativa das emissões de gases com efeito de estufa, com metas mais apertadas e prazos mais apertados do que os que estão a ser considerados.
“A mensagem que ouvimos dos eleitores foi de mudança. O mandato que nos deram foi para avançar com o nosso objectivo de uma transição verde com justiça social”, resumiu Eickhout. “A nossa tarefa, e responsabilidade, é agora traduzir a confiança depositada em nós pelos eleitores em acções concretas”, completou Keller.
Depois de serem elogiados pelo socialista Frans Timmermans, e a liberal Margrethe Vestager, nenhum dos dois revelou preferência por qualquer um dos cabeça de lista dos grupos maiores, limitando-se a repetir que o próximo presidente da Comissão Europeia tem de ser o “mandatário da mudança”. O que não quer dizer que não estejam interessados em participar, muito activamente, na escolha do próximo chefe do executivo comunitário, até porque defendem o fortalecimento do papel institucional do Parlamento Europeu.
A plataforma política dos Verdes não se resume exclusivamente à agenda da defesa do planeta e protecção do clima, e vários membros da bancada parlamentar prometeram aproveitar a luz dos holofotes e usar o seu novo poder para promover políticas de harmonização e justiça fiscais ou defender a igualdade de género, as liberdades cívicas e o Estado de Direito (recorde-se, por exemplo, que o relatório do Parlamento Europeu que resultou na abertura de um procedimento contra a Hungria ao abrigo do artigo 7.º do Tratado de Lisboa foi da autoria da holandesa Judith Sargentini, eleita pelos Verdes).
A maior vitória nacional dos Verdes aconteceu na Alemanha, com 20% dos votos. Para se perceber a grandeza do resultado, basta comparar o número de eurodeputados ecologistas alemães no actual Parlamento Europeu, 13, e no próximo, 22. Os Verdes tornaram-se o segundo maior partido germânicos, e desferiram um golpe possivelmente fatal sobre a GroKo, a histórica “grande coligação” que junta a CDU e o SPD no poder.
A análise das sondagens e dos resultados mostra que o voto dos Verdes se concentra sobretudo no eleitorado mais jovem. Mas vários analistas desaconselhavam leituras apressadas sobre o poder de atracção eleitoral dos ecologistas, duvidando por exemplo de uma relação de causa e efeito entre a explosão das greves estudantis pelo clima e o aumento da votação dos Verdes.