“É preciso levar os sofás para a rua” — da escola, do ATL, de casa e do trabalho

Marta Serapicos, de 46 anos, trouxe as crianças do ATL que gere para a greve pelo clima no Porto. “Lembro-me, dos meus 18 anos, da PGA. Lembro-me de haver uma causa comum que nos dá sempre tanta força e tanta garra para lutar.” Um testemunho na primeira pessoa.

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Marta, 46 anos, responsável por um ATL Nelson Garrido

“Acho que os jovens, sobretudo, têm que alertar. A nível individual podemos contribuir um bocadinho, mas o nosso papel é sobretudo alertar a sociedade política, para que o clima seja um ponto na agenda de toda a gente. Esta já era uma preocupação minha enquanto mãe. Temos um ATL pequenino, com 17 crianças — estão aqui 15, inclusivamente com pais que vieram acompanhar e estão mobilizados para o tema. Começámos a alertar para algumas coisas que dentro da própria instituição era preciso fazer, desde a poupança da água à separação do lixo, essas coisas mais básicas que em casa podemos fazer. 

Os mais pequeninos, do infantário, estão a fazer uma manifestação mais interna, pela vizinhança na zona de Serralves. As crianças são muito permeáveis. Rapidamente percebem o que é que é importante. 

Por mim, e enquanto mãe, se for uma falta é uma falta. Justificada ou não é uma falta cheia de razão de existir. Inclusivamente falei com a professora da minha filha e ela compreendeu perfeitamente, até teve pena de não conseguir associar-se também. Infelizmente sei de algumas escolas e alguns professores que não aceitam bem estas faltas.

Estamos a dois dias de exercer o nosso poder do voto. As eleições europeias, às vezes, parecem que não vão ter influência nenhuma em nós, que é uma coisa muito distante: mas eu vou ter em conta este tema quando votar no domingo. Não sei se estamos já em emergência. Mas pelo menos, se a declarássemos, antecipávamos alguns danos que ainda podem vir.

Espero que a sociedade adira em massa aos protestos de Setembro. Até porque vai havendo um contágio. Eu não vim à primeira, por isso não tenho bem noção de como foi a adesão, em termos locais. Mas acho que isto vai mobilizando cada vez mais gente. Envolver os mais pequenos também ajuda porque eles acabam por levar para casa muitas coisas — como a reciclagem, que foi ensinada pelas crianças aos pais. 

Eu não percebo as críticas a estes jovens. Acho que é ignorância, honestamente. Acho que é falta de capacidade de querer ver e, sobretudo, de se quererem implicar numa causa que é de todos. Isto é maravilhoso, até estou arrepiada. Se estivesse mais gente ainda mais arrepiada estaria. É incrível ver crianças tão novas e adolescentes a lutar por uma causa e a saberem exactamente por que é que estão a lutar. 

Lembro-me, dos meus 18 anos, da PGA [antiga Prova Geral de Acesso à faculdade]. Na altura foi o tema, que me lembro, mais mobilizador. Lembro-me de haver uma causa comum, que nos dá sempre tanta força e tanta garra para lutar. E que nos une. A falta de coesão é também uma crise a nível social. Desde aí participei também em várias manifestações políticas, sobre os direitos humanos, das mulheres. Sempre que posso implico-me em manifestações. Há pouca expressão por cá. Acho que tem um bocadinho a ver com a nossa sociedade, nós não nos manifestamos tanto publicamente e em massa mas manifestamo-nos mais no nosso sofá. É preciso pôr os sofás na rua.”

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