Café: em grão ou em cápsula? As opiniões dividem-se

Em dia de greve climática também se discute o impacto ambiental do consumo de café.

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ricardo campos

O café tem legiões de fãs, só o ano passado, as vendas de café em Portugal atingiram os 535 milhões de euros, mais 4,9% face ao ano anterior, segundo a Informa D&B. Em torno do café há várias questões que se colocam, por exemplo, se faz bem ou mal à saúde, se é melhor bebê-lo em cápsulas ou moído na hora; e se o uso das cápsulas é bom ou mau para o ambiente.

Esta bebida tem sido investigada e vários estudos provam que o seu consumo pode ter um efeito protector em relação a algumas patologias, desde a diabetes a doenças cardiovasculares, Alzheimer, Parkinson e até alguns tipos de cancro. Apesar de mostrarem que há uma menor percentagem destas doenças nas pessoas que bebem café, “os estudos actuais não permitem estabelecer uma relação de causa e efeito entre o consumo de café e o aparecimento de doenças”, salvaguarda a nutricionista Ana Bravo no seu blogue. Também não é possível afirmar que o café em grão é mais ou menos benéfico para a saúde que o café em cápsulas, mas “é mais amigo do ambiente”, considera Mariana Vale, gestora de produto da De'Longhi, uma marca italiana de máquinas de café.

A sustentabilidade do café em grão está relacionada com a possibilidade de reaproveitamento e com a quantidade de plástico utilizado para o seu armazenamento, que é menor quando olhamos para as cápsulas. “A reutilização dos seus resíduos (as borras) poderem ser reaproveitadas, por exemplo, como adubo ou para compostagem”, defende Mariana Vale. Além disso, o facto de “poder ser comprado em grandes quantidades ou a granel contribui para a diminuição do impacto ambiental, uma vez que menos plástico é utilizado no seu armazenamento”, continua.

Por outro lado, segundo a directora de mercado da Nespresso em Portugal, Anna Lenz,​ o café em cápsula pode ser mais ecológico. “Quando reciclada a cápsula no final, tem um impacto menor [para o ambiente] do que o café de filtro: o café em cápsula utiliza a quantidade exacta de café, água e energia necessária para extrair um café. Ao preparar um café de filtro, o consumidor normalmente usa mais café do que é realmente necessário, ferve demasiada água e depois deita fora as sobras, o que, no final, representa um desperdício significativo”, justifica.

De acordo com um estudo da Marktest referente a 2017, 58,8% dos residentes em Portugal continental consomem café em cápsula em casa. Apesar de as cápsulas poderem, no caso de várias marcas, ser recicladas, o desperdício continua a ser significativo. A pensar nisso, a Delta Q foi a primeira em Portugal a apostar em cápsulas sem plástico, feitas a partir de cana-de-açúcar, mandioca e milho. Embora o produto não contenha o plástico tradicional que deriva do petróleo, o principal componente — um bioplástico — só é compostável industrialmente​. A entrada no mercado está prevista para o segundo semestre deste ano e, por se tratar de um produto biodegradável e 100% orgânico, tem uma validade reduzida de apenas 90 dias. Em 2010, a Nespresso lançou o programa “Reciclar é Alimentar”, que “reutiliza a borra do café contido nas cápsulas usadas, para enriquecer um composto agrícola utilizado para fertilizar arrozais, na região entre Grândola e Alcácer do Sal”, lembra Anna Lenz. O arroz destas plantações é posteriormente doado ao Banco Alimentar contra a Fome. 

Optar pelo café em grão pode oferecer vantagens para todos aqueles que realmente apreciam o sabor da bebida e não a tomam apenas por necessidade, defende Mariana Vale. “Por estar no seu estado original, ajuda a preservar as características organolépticas do café, mantendo a sua cor, sabor, aroma e textura”, diz. 

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