O que faz falta é animar a malta e ter Jerónimo ao lado do candidato
Depois de ter feito uma campanha paralela a João Ferreira para congregar esforços de apelo ao voto na CDU, o líder do PCP junta-se agora à comitiva para o sprint final.
A estratégia foi perceptível desde antes da campanha, mas teve especial impacto nestas duas semanas. Em iniciativas de peso, Jerónimo de Sousa esteve ao lado de João Ferreira, na marcha no Porto (no domingo véspera do arranque oficial), no jantar das mulheres, na arruada em Almada e no comício em Alhandra. Sempre casa cheia – a presença do secretário-geral do PCP é receita para o sucesso de um evento. Entretanto, desapareceu. Voltou a juntar-se na noite passada num comício em Alpiarça; esta tarde faz a arruada na Rua de Santa Catarina, no Porto, e o comício de Braga; na sexta-feira não larga o primeiro candidato da CDU, entre o Barreiro, Chiado, Loures e Seixal.
A intenção é não ofuscar João Ferreira – é a sua terceira candidatura e lidera a lista pela segunda vez – que já consegue viver por si nas ruas. Embora manifestamente sem a força de um secretário-geral (ou de um futuro, muito futuro, candidato a esse lugar). Por isso, durante todos os dias desta campanha eleitoral, Jerónimo de Sousa teve um calendário paralelo bem preenchido, umas vezes nem muito longe, outras em alturas que João Ferreira estava nos debates das televisões. Jerónimo levava consigo outros candidatos da lista.
Ora, se a música com Jerónimo é outra, é também verdade que o estilo desta campanha eleitoral está mais formal que outras anteriores. O formato clássico dos comícios-festa, em que antes dos discursos há sempre uma actuação musical, parece estar a cair em desuso na CDU. Cantorias no palco só aconteceram em Faro, com um sui generis concerto de um fadista motard apoiante da CDU; em Alhandra, com o Quinteto 5 Caminhos; e na Marinha Grande, com alguns elementos da Brigada Víctor Jara.
Com Jerónimo a entrar a sério na campanha de João Ferreira nesta quinta e sexta-feira, os comunistas tentam contrariar as tendências das sondagens, que apontam para a perda de um mandato – o mesmo que João Ferreira ganhara em 2014 quando liderou a lista e ultrapassou o concorrente directo Bloco de Esquerda que então desceu de três para um mandato, e teve um resultado histórico de 12,68%. Tal como noutros anos, à volta de João Ferreira o assunto é desvalorizado.
O líder parlamentar comunista João Oliveira, que marcou presença nesta quarta-feira à tarde na arruada na Amora, disse que a CDU não tem fasquia que lhe “limite a ambição” e recusou imaginar cenários para domingo ou admitir tirar ilações sobre uma redução da votação. “Com frequência nas eleições temos duas vitórias: vencemos os obstáculos para ter bons resultados e vencemos as sondagens - se neste vencermos as sondagens como há cinco anos, no domingo à noite teremos razões duplas para festejar.” “Com a certeza de que não travamos esta batalha com as mesmas armas das outras forças políticas” – a preparar já um discurso que em noites eleitorais complicadas no Centro de Trabalho Vitória costuma envolver argumentos como a acusação de perseguição e de desvalorização do PCP por parte da comunicação social e a lembrança de que o partido é uma excepção no panorama europeu.
Já o candidato insiste que o resultado se está a construir de dia para dia e nos últimos dias tem usado a estratégia de dizer que estas eleições “não são para ver quem ganha ou perde”, mas para escolher os 21 portugueses que se vão sentar no Parlamento Europeu para defender os interesses de Portugal.
Nesta quarta-feira, houve uma espécie de um toca a reunir na margem Sul: entre a arruada da manhã na Baixa da Banheira e a da tarde na Amora, por ali estiveram os deputados Bruno Dias e Paula Santos, Heloísa Apolónia (PEV), e o ex-parlamentar Miguel Tiago.
Na Marinha Grande, terça-feira já noite dentro, Ferreira havia de entrar em terreno alheio para apelar à mobilização dos militantes. Lembrou-lhes que decerto muitos conhecem “gente cujo coração bate à esquerda, democratas, patriotas, que terão até algumas vezes votado no PS”. Alguns podem “ainda estar indecisos”, acrescentou – e é preciso que esses levem “a água ao moinho” da CDU.