Donald Tusk: o presidente que veio do Leste
Teve a espinhosa missão de presidir ao Conselho Europeu numa altura em que a crise alimenta divisões e o poder se concentrou em Berlim.
Diz o que pensa, o que nem sempre é bem-vindo. Sobre o “Brexit”, Donald Tusk prometeu um lugar no Inferno a quem teve a ideia. Já esta semana apelou ao voto no Change UK – criado há dois meses por um grupo de conservadores e trabalhistas dissidentes, que se opõem à saída. Mas insistiu sempre em que o Reino Unido deve ser tratado com respeito e que a União Europeia tem a obrigação de facilitar-lhe a vida. Sobre Donald Trump, já disse que “com amigos como estes, quem precisa de inimigos.”
Tusk foi o primeiro político vindo de Leste a ocupar o topo de uma instituição europeia – o Conselho Europeu. Depois do low-profile do belga Herman van Rompuy, este polaco liberal que liderou durante sete anos o Governo de Varsóvia deu alguma cor ao cargo. Partilha com o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, os holofotes que iluminam o palco europeu. Cumpriu dois mandatos de dois anos e meio cada um. Teve a espinhosa missão de presidir ao Conselho Europeu numa altura em que a crise alimenta divisões e o poder se concentrou em Berlim. Cumpriu o seu papel entre as múltiplas pressões das capitais. Pode dizer-se que o balanço é positivo.
O seu mandato termina a 30 de Novembro. A Polónia tem eleições legislativas em Outubro, que serão um teste ao partido nacionalista de Jaroslaw Kaczynski que governa o país desde que Tusk perdeu as eleições, em 2014. Haverá presidenciais em 2020 e os partidos da oposição vêem em Donald Tusk o único candidato viável. Ele próprio já disse: “Ninguém espere que, depois de concluir o mandato, vá para casa observar a política na televisão”. A seu favor tem o facto de, apesar do eurocepticismo do Governo actual, mais de 80% dos polacos nem quererem pensar em sair da União Europeia.
Nasceu em Gdansk em 1957, foi um activista do Solidariedade, sofreu as perseguições do regime comunista. Com uma bisavó alemã e um avô que lutou na resistência ao nazismo, diz que aprendeu na sua cidade natal que “nada é simples na vida ou na História” e que o melhor é “estar imune a qualquer espécie de ortodoxia, de ideologia e, acima de tudo, ao nacionalismo”.