Esta sexta-feira há nova greve pelo clima — em Portugal e no mundo
Jovens portugueses voltam a sair à rua em defesa do planeta em pelo menos 33 localidades. Greve, inspirada por Greta Thunberg, está marcada em mais de 100 países. Faltas, dizem directores, são injustificadas, mas o Ministro do Ambiente diz que esta é “a mais justa” das lutas.
A greve climática estudantil marcada para sexta-feira, 24 de Maio, às 10h30, vai realizar-se em pelo menos 111 países, entre os quais Portugal, onde o número de localidades tem vindo a aumentar, ultrapassando já as três dezenas.
Depois do protesto estudantil em defesa do planeta que, em meados de Março, juntou 1,6 milhões de estudantes de mais de uma centena de países, os jovens preparam-se agora para um novo evento — e, desta vez, com a companhia de pais e avós que criaram o seu próprio movimento, o Parents for Future, presente em 36 comunidades de 16 nacionalidades (incluindo Portugal). Por cá, a greve tem vindo a ganhar seguidores: em Março aderiram 26 localidades, juntando cerca de 20 mil jovens, e para o protesto de sexta-feira já estão agendadas acções para 50 locais, segundo dados da organização da greve. As escolas, por seu turno, vão funcionar normalmente e todas as faltas, avisam os directores escolares, serão injustificadas.
Segundo o site Fridays For Future, que reúne as informações dos protestos a nível mundial, já aderiram à iniciativa de sexta-feira 111 países e há protestos agendados para 1.387 cidades, mas os números têm vindo a ser actualizados. Por cá já há protestos marcados em Alcácer do Sal, Ansião, Armamar, Arcos de Valdevez, Aveiro, Barcelos, Beja, Braga, Bragança, Caldas da Rainha, Castelo Branco, Castro Verde, Chaves, Coimbra, Covilhã, Esposende, Évora, Fafe, Faro, Figueira da Foz, Figueira de Castelo Rodrigo, Funchal, Fundão, Guarda, Guimarães, Lamego, Leiria, Lisboa, Mafra, Marco de Canaveses, Mértola, Ourém, Pombal, Ponte da Barca, Portalegre, Porto, Sabugal, Santa Maria, São Miguel, Santarém, Serpa, Setúbal, Sines, Terceira, Trancoso, Viana do Castelo, Vila do Bispo, Vila Pouca de Aguiar, Vila Real e Viseu.
Contra o aquecimento global, os jovens, que têm estado a pernoitar à sexta-feira à porta da Assembleia da República, dizem que não querem como herança um planeta quase a morrer, que é o resultado de políticas erradas ou da simples inércia dos governantes, alertando que o tempo está a esgotar-se para lhes reservar um futuro. “A nossa principal exigência ao Governo português é que faça da resolução da crise climática a sua prioridade, cumprindo com todo o zelo e respeito o Acordo de Paris e as metas estabelecidas pela União Europeia”, defendem os representantes portugueses da greve.
A proibição da exploração dos combustíveis fósseis em Portugal, a meta para a neutralidade carbónica ser reduzida para 2030, e não 2050, como previsto pelo Governo são duas das medidas que os jovens querem ver em prática. A luta dos alunos é também pela expansão significativa das energias renováveis, em especial a solar, por passar uma produção eléctrica 100% assegurada por energias renováveis até 2030 e pelo encerramento das duas centrais eléctricas ainda movidas a carvão — a central de Sines e central do Pego. O melhoramento eficiente e drástico do sistema de transportes públicos, de maneira a que possam substituir o uso do transporte particular é outro dos objectivos.
Uma luta que para o Ministro do Ambiente e Transição Energética é “a mais justa”, como disse João Pedro Matos Fernandes à agência Lusa. Trata-se, afinal, de uma batalha “de uma geração que a faz por uma causa que não é só das gerações futuras, mas também da geração presente”. João Pedro Matos Fernandes assegura que ouve as mensagens dos manifestantes, mesmo quando estes querem ir mais depressa do que o Governo está disposto a ir, como no caso do encerramento das duas centrais eléctricas a carvão portuguesas (Sines e Pego), cuja data de encerramento está apontada para 2030. Encerrá-las mais cedo significaria que “metade do país ficava sem electricidade” porque ainda não há capacidade para Portugal produzir a sua electricidade apenas a partir de fontes renováveis.
Estes alunos juntam-se a estudantes de outros 110 países que também já anunciaram a sua participação no protesto inspirado na jovem activista sueca Greta Thunberg que, no Verão do ano passado, começou sozinha uma greve às aulas em protesto contra a inacção do governo sueco em relação à crise climática. O gesto inspirou milhões um pouco por todo o mundo. A jovem, que está nomeada para o Prémio Nobel da Paz, foi aliás capa da revista Time este mês, onde surge de vestido verde e sapatilhas. “Agora estou a falar para o mundo inteiro”, escreveu a activista de 16 anos ao partilhar o artigo nas redes sociais.
Na entrevista fala também da síndrome de Asperger que lhe foi diagnosticada e da forma como decidiu usar a diferença. “Vejo as coisas de uma forma um pouco diferente das outras pessoas, mais a preto e branco. As alterações climáticas são preto e branco.” Em breve, será publicado pela editora britânica Penguin No One is Too Small to Make a Difference, um livro que reúne 11 discursos com que tem enfrentado vários públicos, na rua ou em sedes de poder, como na Cimeira do Clima das Nações Unidas e no Parlamento Europeu. Quem sabe se em breve não o fará por cá: à semelhança de outros países, o Parlamento português aprovou um convite à jovem activista para discursar na Assembleia da República.
Nós pedimos, tu filmaste: a Greve Climática foi assim
Artigo actualizado com as confirmações de novas localidades