A jovem Greta Thunberg, de apenas 16 anos, já não é um rosto anónimo. É o rosto do futuro, para muitos. A promotora do movimento Fridays for Future, que iniciou com a mesma a fazer greve à escola às sextas-feiras, junto ao parlamento sueco, tornou-se mundialmente reconhecida por ser a desencadeadora de uma série de greves globalmente coordenadas de jovens estudantes, empenhados na defesa do ambiente e combate às alterações climáticas (#SchoolStrike4Climate).
Esta greve estudantil, desconsiderada pelos adeptos da ortodoxia como um mero acto de rebeldia ou pelos mais cínicos como a oportunidade propícia à balda e ao absentismo, foi inequivocamente um gesto mediaticamente bem-sucedido de desobediência civil.
Consideremos o seu poder de influência e mobilização, ilustrado pelo facto de ter persuadido mais de um milhão de jovens e estudantes a manifestarem-se a 15 de Março de 2019, em mais de 1769 localidades dispersas por 112 países, em prol de políticas ambientais mais ambiciosas, procurando imprimir uma urgência climática. Nesse dia reuniram-se milhares de jovens, não para um concerto, e não para erguer cartazes com os nomes dos seus artistas preferidos, mas com mensagens incisivas para os seus dirigentes políticos e para a população geral: temos que pôr um travão às nossas emissões de gases com efeitos de estufa, temos que transitar de modelo energético, temos que repensar o nosso estilo de vida!
No meio de tanta balda pedagógica, pelo menos uma mensagem tem que ser retida. Foram os jovens, muitos dos quais a quem nem sequer foi concedido ainda o direito de voto, que vieram para a rua, exigindo a protecção de um bem comum: o planeta e os delicados ecossistemas que mantêm a vida, inclusive, a vida humana. Muitos dos adultos ficaram em casa ou no local de trabalho.
Frequentemente imersos na vida social e profissional, e alienados pela obsessão com os bens financeiros ou crescimento na carreira e estatuto social, é isso que a maioria de nós falha em perceber: a interconexão de todos os sistemas terrestres e como a mera alteração num ponto percentual da temperatura média do planeta ou a extinção de uma mera espécie de insecto pode vir a hipotecar o nosso actual estilo de vida e o das gerações subsequentes. Falhamos em protestar face à negligência ambiental das empresas ou a permissividade dos sucessivos governos. Temos sido itinerantes de um estilo de vida condutivo ao desastre ambiental.
Como dizia e bem António Guterres, o Secretário-Geral das Nações Unidas, que apoiou estas iniciativas, se a geração dele falhou em dar uma resposta adequada ao desafio da crise climática, os jovens têm todo o direito em se revoltar. São eles que têm que fazer uma chamada de atenção aos nossos líderes políticos.
E é isso que muitos deles fizeram, guiados pela jovem sueca. É um bom sinal para o mundo que muitos jovens tenham Greta como um ídolo. Se o nosso ídolo no poster de parede nas décadas passadas era a Kate Bush, o Jim Morrison ou o Kurt Cobain, o facto de muitos jovens terem Greta Thunberg como um ídolo de parede, é um sinal auspicioso de consciencialização e mudança positiva.
Mas é também importante, com o aproximar da próxima acção de greve globalmente coordenada, a 24 de Maio, que paremos um pouco para reflectir sobre quem é Greta.
A Greta é alguém que age, para além de falar, que prega e também segue os princípios preconizados. Não ergue apenas cartazes com mensagens acutilantes, exigindo que outros tomem acção por si. É um exemplo de acção em si. Sabemos que a activista segue uma alimentação vegetariana e recusa-se a viajar de avião, para atenuar a sua pegada ecológica, só para dar alguns exemplos. E que motiva os outros, inclusive os seus familiares, a fazer o mesmo.
É por isso importante sermos Greta, além de fazermos greve. No nosso dia-a-dia, temos que saber reconhecer o importante papel de cada um de nós, na nossa esfera de acção individual. Não basta exigirmos que os outros mudem por nós. A mudança tem que começar connosco.