A Liga do louvor ao talento estrangeiro. E não só...

Há oito equipas que terminam satisfeitas um campeonato dominado pelo FC Porto nas bolas paradas e em que os laterais lideraram a folha de indisciplina.

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O FC Porto liderou o "pelotão de estrangeiros", mas o Benfica foi campeão com muitos portugueses. LUSA/FERNANDO VELUDO

Se apenas contassem os golos de jogadores estrangeiros, o FC Porto teria sido campeão da I Liga 2018-19, com nove pontos de vantagem para o Benfica. No entanto, se apenas contassem os golos de jogadores portugueses, o Benfica teria vencido o campeonato com dez pontos de vantagem sobre o Sp. Braga e 17 sobre o Sporting. O FC Porto acabaria… em sétimo lugar. Estes dados servem para ilustrar, como curiosidade, que, por um lado, esta Liga trouxe, globalmente, um tremendo peso dos jogadores estrangeiros, mas que, por outro, o campeão até celebrou bastante o talento nacional.

O campeonato que terminou no domingo trouxe, sob um prisma exclusivamente nacional, a emancipação e/ou confirmação de jogadores como Bruno Fernandes, João Félix, Chiquinho, Ferro, Pizzi, Dyego Sousa ou Rafa. Não obstante, esta Liga foi, de longe, a que maior percentagem de jogadores estrangeiros teve neste milénio. Falamos de uma média, entre todos os clubes, de 62,5% dos jogadores utilizados, números que só têm paralelo, nos últimos 20 anos, com a temporada de 2011-12 (61,7%).

Para este dado contribuíram, sobretudo, o FC Porto e o Desportivo das Aves, ambos acima dos 83% de jogadores estrangeiros. No pólo oposto, houve apenas quatro equipas que ficaram abaixo dos 50%: foi o caso do Sp. Braga, do Moreirense, do V. Setúbal e do Tondela.

Curiosamente, apenas uma destas equipas, o Sp. Braga, falhou o objectivo com que iniciou a temporada. O Moreirense superou, largamente, o plano da permanência, assumindo-se como a grande revelação da prova (perdeu o quinto lugar na derradeira jornada para o vizinho Vitória), enquanto V. Setúbal e Tondela, com maior ou menor dificuldade, também alcançaram essa meta.

Seguindo no plano dos objectivos alcançados, pode dizer-se que há oito equipas que terminam a temporada claramente satisfeitas: Benfica, Moreirense, Rio Ave, Santa Clara, Boavista, Belenenses, V. Setúbal e Tondela. Depois, temos os casos de “sorriso ligeiro” de V. Guimarães e Desp. Aves, enquanto as restantes, por diferentes motivos, encerraram a Liga com “cara fechada”.

FC Porto, Sporting e Sp. Braga falharam o título (ou, no caso dos minhotos, uma ameaça mais duradoura ao primeiro lugar), o Marítimo ainda recuperou de um arranque comprometedor mas não conseguiu chegar à Europa, o Portimonense passou dificuldades depois de um início promissor e o Desp. Chaves não só fracassou na confirmação como equipa de top-10, como desceu mesmo de divisão.

Nacional e Feirense terminaram a temporada, evidentemente, com tudo por cumprir.

Os reis dos cartões

Olhando para as estatísticas, esta épcoa trouxe uma redução do número de “heróis”. Falamos dos jogadores autores de “gamewinners”, isto é, de golos decisivos para transformar um empate numa vitória da própria equipa.

O brasileiro “Tiquinho” Soares e o suíço Haris Seferovic fizeram sete golos nestas condições, um número longe dos alcançados por Bas Dost (11 em 2017-18 e nove em 2016-17) e  por Jonas (12 em 2015-16).

Em matéria de dados menos “exóticos”, esta Liga coroou V. Setúbal e Sporting como “reis da indisciplina”. A equipa sadina fez 656 faltas, viu 94 amarelos e teve jogadores expulsos sete vezes, enquanto os “leões”, apesar das poucas faltas, somaram 95 amarelos e sete vermelhos.

Nota, ainda, para uma curiosidade acerca do Sporting: apesar de até ter um registo “normal” nos cartões amarelos provocados por faltas, foi a equipa que mais cartões viu por protestos (15).

Individualmente, o “troféu” vai para três laterais. Falamos dos 15 amarelos de Vítor Bruno, do Feirense, dos nove amarelos e três vermelhos de Fábio Coentrão, do Rio Ave, e dos três vermelhos de Ristovski, do Sporting.

Quem melhor aproveitou este lado agressivo de alguns adversários foi o FC Porto. A equipa portista foi a que mais golos fez de bola parada (24) - ainda que pontapés de canto também façam parte da contagem e não apenas livres e penáltis - e, para isso, fez uso de uma vertente em que também domina: é a equipa mais forte nos duelos aéreos, com contribuição decisiva dos centrais Felipe e Militão, ambos no top-10 individual desta estatística.

Quem também fez valer a agressividade alheia foi o Sporting, de longe a equipa que beneficiou de mais pontapés de penálti (foram 15).

A Liga de Bruno Fernandes

Voltando ao lado bom do futebol, o do golo, destaque para Bruno Fernandes, que, para além dos já muito falados números de golos e assistências, foi o jogador mais rematador da Liga (122 remates). No entanto, o sportinguista não se limitou a marcar, já que foi o segundo jogador da Liga com mais passes para finalização, apenas superado pelo lateral Rodrigo Soares, do Desp. Aves.

Nas balizas, houve Léo Jardim, Cláudio Ramos e Muriel em bom plano, já que foram os guarda-redes com mais defesas feitas, num ranking no qual, curiosamente, o quarto lugar é de Odysseas Vlachodimos, guarda-redes do campeão Benfica. Apesar de jogar num dos três “grandes” - teoricamente, equipas menos permissivas a nível defensivo -, o grego teve de fazer 92 defesas.

Em suma, as estatísticas da Liga mostram três aspectos fulcrais: que grande parte das equipas deu muita importância ao talento estrangeiro (ainda que o campeão tenha recorrido ao produto nacional), que Bruno Fernandes foi o jogador mais influente da prova e que o FC Porto poderia ter sido campeão graças a um tremendo aproveitamento das bolas paradas ofensivas.

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