Dona do Minipreço evita insolvência com ajuda da banca
Sociedade espanhola DIA tinha até hoje para encontrar solução de reestruturação financeira. Mikhail Fridman reforça para 69,76%. Operação portuguesa está mais pequena
O grupo espanhol DIA – Distribuidora Internacional de Alimentación, que em Portugal detém uma rede de 528 supermercados Minipreço/Dia e 71 drogarias Clarel, terá conseguido evitar esta segunda-feira, 20 de Maio, entrar em incumprimento já este mês com a banca credora.
A companhia LetterOne, do empresário de origem russa Mikhail Fridman, que é já o maior accionista do grupo de distribuição espanhol, viu o seu plano de reestruturação ser aceite em bolsa e pelos bancos – aos quais a DIA teria de começar a pagar créditos de 900 milhões de euros já este mês. O Santander, com financiamentos acima de 500 milhões de euros à retalhista alimentar, é o principal banco credor da DIA.
Em concreto, e segundo o comunicado hoje emitido na CNMV (comissão do mercado de valores mobiliários espanhola) a LetterOne – que em Abril lançara uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a dona da cadeia Minipreço – considera que duas das três condições que tinha imposto para liderar a reestruturação de capital (a OPA e um aumento de capital adicional até 500 milhões de euros) foram já cumpridas.
Primeiro, e através da OPA, Fridman viu o seu controlo (era já o maior accionista da DIA com 29,01% antes da OPA) passar para 69,76%.
A segunda imposição da LetterOne era a obtenção “de um acordo com os credores titulares da dívida bancária sindicada da DIA” que permitisse “uma reestruturação ou refinanciamento da dívida que garantisse a estabilidade financeira da sociedade”. Neste caso, esclareceu a LetterOne que obteve “no dia de hoje um acordo (“lock-up agreement”) com todos os credores titulares da dívida bancária da DIA”, estabelecendo assim uma via para a ambicionada “estabilidade financeira” da companhia de distribuição.
Falta ainda uma terceira condição, que tinha a ver com a “nomeação de uma maioria de membros do conselho de administração da DIA propostos pela LetterOne”. Aqui, Fridman é bastante claro: a LetterOne “insta publicamente o conselho de administração da DIA que realize com carácter imediato as nomeações oportunas que lhe foram comunicadas para que a dita condição seja cumprida”.
Recorde-se que o preço (0,67 euros por cada título da DIA na OPA) e o modelo de reestruturação financeira não tinha o apoio do actual conselho de administração do grupo espanhol – que tinha um plano alternativo – nem por alguns accionistas minoritários, entre os quais o português Luís Amaral.
Uma vez que estejam cumpridas as três condições, a LetterOne acredita que “o aumento de capital de 500 milhões de euros é suficiente para afastar a causa de dissolução por perdas, ao restaurar o equilíbrio patrimonial da DIA”. Adicionalmente, a injecção de capital e “as novas linhas de financiamento por um valor total de 380 milhões de euros” previstos no acordo obtido com a banca “constituem uma solução dos problemas de liquidez que a DIA estava a atravessar, e proporcionam uma estrutura de capital viável de longo prazo”.
Operação portuguesa diminui
No final do primeiro trimestre do ano – segundo os resultados apresentados na semana passada pela DIA ao mercado – a companhia consolidou vendas líquidas de 1,66 mil milhões de euros em Espanha, Portugal, Argentina e Brasil (uma queda de 7,2% face ao primeiro trimestre de 2018).
Em Portugal, as vendas brutas sob insígnia (o que agrega IVA e as vendas da companhia assim como dos franchisados) caíram 3,2%, para 181 milhões de euros, enquanto as vendas líquidas recuaram 5,6%, para 139 milhões de euros no trimestre.
O EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado diminuiu em 68,2%, para 2,4 milhões de euros, com “uma erosão da margem de 340 pontos base, para 1,8%”. Globalmente, o EBITDA ajustado consolidado pelo grupo DIA registou uma queda de 85,8%, para 12 milhões de euros no mesmo período.
No final de Março, o grupo de distribuição tinha em operação 6087 lojas em todo o mundo – excluindo as 34 lojas Max Desconto e as 1280 drogarias Clarel que tem na Península Ibérica, classificadas desde o final de 2018 como operações descontinuadas (uma vez que a companhia já disse que as vai alienar). Isso inclui – só nessa operação de venda já anunciada – 71 lojas Clarel em Portugal.
Na rede alimentar da Dia/Minipreço no território português, o parque sofreu uma redução nos 12 meses terminados em Março último. Enquanto no final do ano passado havia 532 supermercados Minipreço/Dia em Portugal (só continental, a marca não está nas duas regiões insulares), no final de Março esse número passou para 528 unidades de retalho alimentar. Face a Março de 2018 havia, um ano depois, menos 17 lojas próprias no território português (recuando para 229 unidades); e menos seis lojas operadas em regime de franchising (decrescendo para 299 unidades).