Fotografia
Brasil: “o corpo está explodindo” contra a repressão de Bolsonaro
Os movimentos de resistência “feminista, negro e LGBT” estão em foco no projecto de Felipe Avila. Esta sexta-feira assinala-se o Dia Internacional contra a Homofobia e Transfobia.
Quando Jair Bolsonaro tomou posse, em Janeiro de 2019, a violência física e verbal contra os membros das comunidades minoritárias tornou-se “autorizada”. “Em consequência”, explica o fotógrafo brasileiro Felipe Avila, “as organizações não-governamentais de protecção dessas minorias tornaram-se mais activas e reactivas e a arte que se produz no Brasil está cada vez mais politizada”. O fotolivro do paulista, intitulado Corpo Presente, uma obra de forte carga política, foca-se precisamente na resistência desses grupos à repressão estatal e utiliza, como ponto de partida, as expressões corporais dos cidadãos em espaço público.
As imagens que compõem o projecto, realizadas em protestos e em celebrações nas ruas de São Paulo, revelam paisagens humanas díspares; se, por um lado, vemos pessoas que expressam livremente ideias e opiniões e que utilizam o corpo como veículo dessas mensagens de liberdade, por outro vemos pessoas completamente cobertas, que usam máscaras para se protegerem contra o poder musculado de Bolsonaro, personificado pelas forças policiais, altamente militarizadas. Foi, aliás, essa dialéctica que aguçou a curiosidade de Felipe.
A eleição de Bolsonaro no Brasil “é um reflexo do que se passa no resto do mundo”, opina o fotógrafo. O conservadorismo, que na visão de Felipe tem origem numa visão ocidentalizada do mundo, está a alterar as dinâmicas sociais e a colocar em perigo as minorias do país. “Bolsonaro está a alterar a legislação de forma a desproteger esses grupos. Os efeitos dessas mudanças começam a tornar-se visíveis, mas ainda é cedo para percebermos a extensão dos danos da sua legislatura.” Os movimentos de resistência “feminista, negro e LGBT [lésbicas, gays, bissexuais e transgénero]” estão em foco no projecto de Avila.
Na opinião de Felipe, este é o momento de os brasileiros reagirem, começarem a ter consciência das limitações que lhes são impostas pelo exterior e de recuperarem o controlo, “a liberdade”. “O corpo está explodindo”, diz, metaforicamente. “As pessoas já não aguentam mais que lhes digam o que podem ou não fazer com o próprio corpo. É o aborto, o uso de drogas, as intervenções no corpo... Não queremos mais que o Estado, a polícia, as instituições, o mercado ou outras pessoas mandem no nosso corpo. Queremos fazer o que quisermos com ele.”
Artigo corrigido às 22h12 de 17/05/2019. A data da tomada de posse estava incorrecta.