Uma festa para Hans Christian Andersen na abertura do FIMFA
Um jantar para comemorar o aniversário do escritor dinamarquês, na companhia das suas personagens, é aquilo que nos propõe a companhia dinamarquesa Teatret Gruppe 38 no Teatro do Bairro, entre 10 e 12 de Maio.
A mesa está posta, um banquete montado, e dois empregados vão servindo os convidados de Hans Christian Andersen em mais um dos seus aniversários. Acontece que estes convidados, cuja invisibilidade se mantém intacta, são as personagens com que o escritor dinamarquês povoou as suas histórias, plantadas num sem-fim de infâncias. A ideia para Hans Christian, You Must Be an Angel, um dos espectáculos de abertura da 19.ª edição do Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas (FIMFA), nasceu entre os elementos da companhia Teatret Gruppe 38 na sequência da criação do performance The Little Matchgirl.
“Sou apaixonada pelos contos de fadas de Hans Christian Andersen desde criança”, confessa ao PÚBLICO a directora artística e actriz Bodil Alling – que assume, com Peter Seligmann, as funções de empregada de mesa na peça apresentada em Lisboa, no Teatro do Bairro, entre 10 e 12 de Maio. “É difícil não nos apaixonarmos pelas histórias de Andersen a partir do momento em que as ouvimos.” Só que essa paixão, muito alimentada pelas memórias de infância, havia de ganhar uma outra espessura e uma outra densidade quando, na preparação de The Little Matchgirl, Alling enfiou a cabeça não apenas na obra de Andersen, mas também em leituras sobre a sua vida e sobre a sua “personalidade peculiar”, apercebendo-se de “todas as diferentes camadas que se podem encontrar nas histórias que ele escreveu”.
Foi assim que, em 2005, aproveitando o 200.º aniversário do nascimento de Andersen, a companhia resolveu levar essa data a sério e preparar uma condigna celebração que pudesse transportar consigo para todo o mundo. “E porque é uma festa de aniversário lembrámo-nos de convidar as suas personagens”, explica a actriz. “Porque muitos dos seus contos de fadas seguem aquilo a que chamamos antropomorfismo – por exemplo, o Soldadinho de Chumbo, A Agulha de Cerzir, A Princesa e a Ervilha –, acabámos por definir as suas personagens através dos objectos que pertencem a um jantar.”
Daí que essas personagens invisíveis se dêem, afinal, a ver através dos pratos, das facas e dos garfos, dos copos e das cadeiras, escolhidos de forma a caracterizarem, sem grande margem para dúvidas, cada uma das personagens. Cabe depois aos dois empregados de mesa dar vida a essas figuras e levá-las a interagir entre si. Mas Bodil Alling discorda que sejam invisíveis: “Porque vemo-las à mesa e lidamos com elas como se estivessem de facto lá. Tudo pensado para que o público aguce a sua imaginação e salte para dentro dos contos.”
O arranque do FIMFA, que este ano decorre de 9 a 26 de Maio e se espraia por dez espaços de Lisboa, inclui ainda, esta quinta-feira, o Micro-Shakespeare da companhia Laitrum Treatre, a falsa nudez da Natural Theatre Company, Os Cabeçudos com Twist de A Tarumba e as Marionetas Gigantes de Moçambique (de 9 a 12), tudo no Castelo de São Jorge.