Quentin Tarantino e Abdellatif Kechiche na competição de Cannes
Once Upon a Time in Hollywood e Mektoub My Love, Intermezzo completam uma lista de 21 filmes em competição.
São novidades de última hora mas que, na verdade, se esperavam: Once Upon a Time in Hollywood, de Quentin Tarantino, e Mektoub My Love, Intermezzo, de Abdellatif Kechiche, estarão prontos a tempo para a competição da 72.ª edição de Cannes (de 14 a 25 de Maio), anunciou o festival.
Tinham sido já divulgados 19 filmes, ficou no ar que a lista iria ser completada ao longo dos dias, à medida que os cineastas convidados para integrarem o concurso dessem notícias do seu trabalho. Especulou-se mesmo de forma intensa sobre o que poderia ainda vir e sobre o que, por causa disso, ficou de fora... E ei-los então...
Tarantino era o coelho que se esperava que saísse da cartola. O cineasta não deixa a mesa de montagem há quatro meses para conseguir acabar o filme, que “é uma carta de amor à Hollywood da sua infância, à cena rock de 1969, e uma ode ao cinema em geral”, segundo se descreve no comunicado do festival, assinado por Thierry Frémaux, o director artístico.
Este regresso de Tarantino à competição de Cannes no ano em que se completam 25 anos da Palma de Ouro a Pulp Fiction com um fresco sobre o Verão de 1969, o Verão dos crimes de Charles Manson, é presença decisiva para os programadores de Cannes. Desde logo pela exibição de um património: Tarantino é “menino” de Cannes, por causa da Palma de Ouro mas também por causa de Cães Danados, cujas bobines o então desconhecido Quentin transportou debaixo do braço até à secção fora de concurso do festival. Estava-se em 1992.
Depois porque a concorrência com o Festival de Veneza, e com a presença de americanos no Lido, está a ser feroz e era importante fixar na Croisette este filme e este cast - Brad Pitt, Leonardo DiCaprio (interpretam, respectivamente, uma estrela de televisão e o seu duplo), Margot Robbie (como Sharon Tate, uma das vítimas de Charles Manson nos crimes que fecharam a porta à década de 60), Tim Roth, Michael Madsen, Dakota Fanning, Kurt Russell ou Al Pacino.
Já Kechiche, que estava a montar o seu filme quando o Ípsilon o visitou nos seus escritórios de Belleville, em Paris, está ainda em trabalhos mas garante que Mektoub My Love, Intermezzo chegará a tempo à Croisette. Aprofundar-se-á nele o retrato sobre a juventude dos anos 90, livremente inspirado num livro de François Bégaudeau, La Blessure, la vraie, que foi iniciado em Mektoub My Love, Canto Uno, título que escapou a Cannes 2018 e foi parar à competição de Veneza. Suspeita-se, pela forma como as sombras começaram a aparecer na orgia solar que era o filme anterior, que terão agora tonalidades mais soturnas as aventuras do jovem Amin, um pretendente a cineasta, e da sua amada Ophélie... são estas as personagens, são estes os corpos que regressam.
Mektoub My Love, Intermezzo dura quatro horas. Poderá haver ainda um terceiro tomo...
Com estes acrescentos o concurso de Cannes 2019, que aposta forte em nomes habituais, passa a contar com cinco cineastas que já receberam antes a Palma de Ouro: Tarantino venceu em 1994 com Pulp Fiction, Abdellatif Kechiche há seis anos com A Vida de Adèle; os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, que concorrem com Le Jeune Ahmed, receberam o prémio máximo por Rosetta em 1999, um dos palmarés mais ousados do festival, e por A Criança em 2005; Terrence Mallick, em concurso com A Hidden Life, venceu em 2011 com A Árvore da Vida; Ken Loach, este ano com Sorry we missed you, pertence ao limitado grupo de realizadores que receberam por duas vezes a Palma: no seu caso, Eu, Daniel Blake, em 2016, e The Wind that Shakes the Barley em 2006.