Ciclone Kenneth fez cinco mortos em Moçambique
As autoridades consideram a situação em Cabo Delgado “muito preocupante”. Ciclone é o mais forte da história de Moçambique.
O ciclone Kenneth causou a morte de pelo menos cinco pessoas em Moçambique, mas o retrato do impacto da sua passagem pelo país está por aferir, até porque os efeitos ainda se estão a sentir. As autoridades moçambicanas estão muito preocupadas pelas inundações que as chuvas fortes previstas para os próximos dias possam provocar.
“Este é o ciclone mais forte alguma vez registado em Moçambique”, em termos de velocidade do vento, disse ao PÚBLICO Saviano Abreu do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), que gere todos os actores da ajuda humanitária em situações de emergência.
“No entanto, em termos de impacto, ainda estamos a avaliar a situação”, referiu o coordenador do OCHA, que quando falou ao PÚBLICO estava a embarcar num avião para fazer um voo de reconhecimento da zona afectada, de modo a perceber melhor como está a situação, em termos de destruição e de inundações.
A situação é “muito preocupante”, porque as chuvas fortes aliadas à subida dos níveis dos rios podem causar inundações. “Todas as bacias hidrográficas estão cheias e os níveis das barragens são muito preocupantes”, explica Saviano Abreu.
O distrito de Macomia e a ilha de Ibo (90% das casas destruídas) foram os mais afectados, sendo que no distrito de Chiure caíram 223 mm de chuva nas últimas 48 horas e a chuva forte continua.
Para já o impacto não foi maior porque o Governo retirou 30 mil pessoas de áreas de risco e alojou-as em centros de acomodação antes da chegada do ciclone. Foram criados 74 centros de acomodação para a população afectada, sendo que neste momento 39 já estão activos, 11 deles em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, albergando mais de 18 mil pessoas.
De acordo com o ponto da situação do Instituto Nacional de Gestão de Gestão de Calamidades (INGC), a protecção civil moçambicana, com dados preliminares de sexta-feira, 3384 casas foram total ou parcialmente destruídas, bem como 31 salas de aulas e três centros de saúde. Uma ponte foi destruída, assim como 20 torres de alta tensão e 34 postes de baixa tensão.
O Kenneth já tinha deixado um rasto de destruição em Mayotte e nas Comores, tendo causado, nesta última, a morte de três pessoas.
Este é o segundo ciclone a atingir Moçambique em pouco mais de um mês, numa altura em que a estação das chuvas está a terminar, o que torna a situação inédita. O ciclone Idai, que atingiu o centro do país a 14 e 15 de Março, fez pelo menos 603 mortos, de acordo com a última actualização do INGC.