Columbine: 20 anos após o massacre, faz-se luz sobre o trauma

Leah Millis | REUTERS
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Depressão. Ansiedade. Medo. Luto. Os sobreviventes de um massacre, independentemente da especificidade de cada caso, experienciam sensações semelhantes, mesmo vários anos após a experiência que os marcou. Nos Estados Unidos, o número de pessoas afectadas directa ou indirectamente por este tipo de violência chega às dezenas de milhares. Vítimas mortais, feridos, testemunhas directas e indirectas, familiares de vítimas e de sobreviventes engrossam esse número e deixam um lastro de pesar que perdurará até que as suas vidas se findem. “Quando algo assim te acontece, tu sabes que nunca mais voltarás a ser normal”, partilha uma das sobreviventes de um massacre com a Reuters. “Sentes que nunca poderás rastejar para fora desse breu.”

Vinte anos separam o evento que marcou para sempre as vidas de Michele e Chad, sobreviventes do massacre de Columbine e Parkland, respectivamente. Michele tem 38 anos de idade, Chad tem 18. A troca de experiências entre o jovem e sobreviventes de massacres passados, que é possível graças à existência do grupo de apoio The Rebels Project, com sede no Colorado, fê-lo sentir-se menos sozinho. “O meu mundo desabou no ano passado”, disse Chad à agência noticiosa. “Ouvir as histórias de outras pessoas e perceber como ultrapassaram a experiência e se tornaram pessoas melhores ajudou-me a sentir um pouco melhor.”

O grupo – que consiste, formalmente, numa organização não-governamental sem fins lucrativos – existe desde 2012 e tem como objectivo estabelecer uma plataforma comum para que se criem laços entre os sobreviventes dos vários massacres, de forma a que se entreajudem no processo de superação do trauma. Há um evento anual que reúne sobreviventes de todo o país — que podem, durante um fim-de-semana, trocar experiências e participar em aulas de yoga e tai-chi —, um outro mensal que decorre no Colorado e a gestão de um grupo privado, no Facebook, que mantém os membros em contacto. Além disso, voluntários da associação visitam, pontualmente, comunidades afectadas por tiroteios em massa e partilham a sua experiência e alguns ensinamentos que, esperam, se traduzam em atalhos no processo de cura.

Sherrie Lawson tem hoje 45 anos. Em 2013, sobreviveu a um massacre, em Washington. Meses após o sucedido, Sherrie continuava a ter pesadelos, insónias e dificuldade em encontrar apoio. “Os meus amigos diziam-me ‘já passaram uns meses, já devias estar bem’.” O The Rebels Project ensinou-lhe que é normal sentir os efeitos do trauma meses após o sucedido — em muitos casos, mesmo anos. Durante o massacre, escondeu-se num espaço exíguo de onde seria arriscado sair, por esse motivo desenvolveu claustrofobia. Tarefas simples e quotidianas, como fazer compras, podem originar ataques de pânico.

Erika Felix, professora de psicologia na Universidade da Califórnia, dedicou parte da carreira a estudar sobreviventes de massacres. “Todas as pessoas que estão, de algum modo, envolvidas neste tipo de acontecimento podem experienciar trauma”, esclarece, “mesmo que não tenham testemunhado actos de violência em primeira mão.” Toda a comunidade é afectada, segundo a especialista, e não apenas as pessoas que viram os colegas serem mortos, que ficaram feridas ou que perderam alguém de quem gostavam. “Um evento como este despedaça a sensação de segurança de uma comunidade”, conclui.

Entre 1999, marcado por Columbine, e 2019, ocorreram onze massacres em escolas dos Estados Unidos, dos quais resultaram 127 mortos.

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