Que Notre-Dame não nos aconteça
O exemplo do respeito deve começar em nossas casas, mas definitivamente precisamos de uma maior atenção política para para que não nos aconteça uma Notre Dame.
É inegável que o património material ou imaterial, enfrenta, nos dias de hoje, riscos e ameaças imensas. Testemunhos da nossa história com séculos de existência que as marcas da passagem de homens e mulheres foram enriquecendo com a compreensão de vidas, vivências, sentimentos, emoções. Obras de mestre que vão valorizando lugares pela sua leitura simbólica, pelo valor da obra e pelo engenho do génio. Cada pedra, cada tela, cada pequeno fragmento representa um trabalho de mãos já desaparecidas e com técnicas esquecidas. Cada peça transporta segredos que o tempo vai apagando.
Estes testemunhos vivos assistem aos enormes perigos dos nossos tempos. As fortes mudanças climáticas, a massificação do turismo, a poluição, os desastres naturais, a guerra, a força humana fruto da loucura, a especulação, a pressão económica, a transformação social, etc, etc, Fortes ameaças ao desaparecimento do que dá valor à Humanidade, ao que a caracteriza mais profundamente na sua cultura e ao que acompanhou os momentos mais significativos da vida Humana.
Colocado em valor económico alcançamos facilmente, em inúmeros casos, os biliões, pelo valor da obra e pelo valor das várias obras integradas, pela história, pelo interesse que desperta na visita ou na compra de outros produtos relacionados, pela atratividade cultural e social que representa. Sendo património da Unesco, o valor aumenta apenas e só pelas suas características únicas e excecionais.
E em Portugal? Como vive e convive o nosso património com todos estes riscos? Muitos condenados ao abandono, outras vítimas da especulação, outros aguardam pacientemente intervenções, outros vítimas de más intervenções. O que fazer? Iniciar pela sensibilização nas escolas, por mudar os programas dos ensinos secundário e superior, construir capacidades em todos nós para olharmos os testemunhos do que somos e do que nos dá valor com respeito e com integridade. Precisamos de um volte-face na formação superior nas profissões que se dedicam a intervir no património, mas de uma forma geral impõe-se criar uma formação de transversalidade sustentável para que todos possamos entender a significância e o significado do património nas suas vidas e nas vidas das próximas gerações.
O exemplo do respeito deve começar em nossas casas, mas definitivamente precisamos de uma maior atenção política para para que não nos aconteça uma Notre Dame.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico