“Novo automóvel”: a influência das tendências de consumo e da revolução i4.0
Para que a indústria se mantenha competitiva, cresça na quota de mercado e potencie o desenvolvimento económico do país, teremos de encontrar uma forma de apoiar as empresas que farão um esforço suplementar doravante.
Que a indústria automóvel, aliás todo o cluster, contribui para o desenvolvimento da economia nacional é inequívoco. Que a sua evolução nos últimos anos tem sido entusiasmante, registando mais de 7% de crescimento médio, 7,1% de peso no PIB, e 75 mil postos de trabalho diretos – sobretudo empregos qualificados –, contribuindo para o crescimento das exportações, também parece não deixar dúvidas. Contudo, não podemos ignorar que o ritmo da mudança tem sido maior do que era previsível e muito mais disruptivo. A nova revolução industrial – i4.0 –, por exemplo, não se baseia em pressupostos conhecidos, obrigando o setor a reagir às alterações de hábitos de consumo num contexto de acesso à informação cada vez mais rápido, através da internet, de novos meios e da hiper-conectividade.
O cluster automóvel na Europa tem uma expressão significativa na manutenção e criação de empego, no contributo para a criação e distribuição de riqueza, na liderança do investimento de Investigação & Desenvolvimento (I&D) e na ligação com o Sistema Científico Europeu. Evidências que não condicionaram a Comissão Europeia (CE) a produzir nova regulamentação para o setor, com o objetivo de travar a deterioração do meio ambiente. As propostas da CE pressionam os fabricantes a limitarem as emissões de CO2 dos veículos, incentivando também o desenvolvimento de veículos “limpos”.
As empresas do setor têm evidenciado uma grande preocupação neste processo de alteração, procurando construir e antecipar os cenários de mobilidade. O “novo automóvel” pode participar na transformação da sociedade para uma realidade hiper-conectada, contribuir para a mobilidade sustentável e, consequentemente, para o processo de incremento da gestão inteligente das cidades. Estes são desafios enormes que não podem ter respostas adiadas. As empresas devem, por isso, assumir um conjunto de pressupostos que derivam da adequação a novas formas de vida e da assunção dos veículos automóveis como um “espaço” que estará sempre conectado com o exterior, em especial com o espaço urbano. A indústria não pode ficar indiferente às alterações dos hábitos de consumo, nomeadamente às questões de propriedade e de partilha, porque haverá efeitos diretos na forma como produz, na organização das suas empresas e no conceito de profissões e emprego que hoje conhecemos.
Na última década, as emissões de CO2 caíram cerca de 25% em toda a Europa. O tema da redução de emissões, da gestão de resíduos e utilização de materiais sustentáveis, bem como da utilização de energias renováveis, é um pressuposto incontornável à permanente aferição da pegada ambiental. Além da evolução para a produção do “novo automóvel”, as empresas deverão ser também mais competitivas, integrando áreas de produção inteligentes e a digitalização dos processos. Trata-se de uma revolução digital que provoca a reformulação e a reinvenção dos modelos de negócio, avançando para um quadro de economia colaborativa com outros sectores, que alarga o conceito do produto automóvel – motorização, relacionamento com infraestruturas, etc. –, e incorpora a automação e robótica, a digitalização e sistemas de informação, assim como processos produtivos ligados à inteligência artificial.
Para que a indústria se mantenha competitiva, cresça na quota de mercado e potencie o desenvolvimento económico do país, teremos de encontrar uma forma de apoiar as empresas que farão um esforço suplementar doravante. É imprescindível que o setor continue forte e dinâmico, que se adapte e conheça um novo quadro de tecnologia, conseguindo a sua integração em ambiente produtivo de forma a tirar vantagem dele, porque é aí que reside a competitividade. Estes são desígnios de muitos parceiros, empresas, instituições promotoras de I&D e universidades, mas em especial do Governo, que deverá estar à altura deste desafio.
José Couto participa na conferência Academia Meets Auto-Industry, iniciativa promovida pelo Técnico Lisboa – Instituto Superior Técnico (IST) e pela Mobinov (cluster do setor automóvel) a 16 e 17 de maio, em Lisboa
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico