Tinha 15 anos, 1,84 metros de altura e 29 quilos. Teresa Procopiak, modelo conhecida por alguns como a sósia de Irina Shayk, foi considerada pelo seu médico norte-americano o “pior caso de anorexia” que viu em 20 anos de profissão. Hoje afirma que está “recuperada” e conta a sua história no livro Do Outro Lado do Espelho, que é lançado nesta quinta-feira, em Lisboa.
Teresa Procopiak é filha de pais diplomatas e já viveu em nove países, actualmente fixou-se em Portugal. Durante dez anos sofreu de anorexia nervosa purgativa – não só se recusava a ingerir alimentos, como provocava o vómito. No livro, Teresa conta a sua história de sobrevivência. Ao PÚBLICO, a autora fala sobre a recuperação que fez, critica a indústria da moda e deixa um alerta a quem sofre de algum distúrbio alimentar: “Sonhar grande, não se comparar com ninguém e não se importar com aquilo que as pessoas pensam de nós.”
“Este livro relata cronologicamente os eventos que decorreram na minha vida ao longo desses anos e, sim, cheguei a pesar 29 kg”, começa por dizer. Quanto ao acontecimento que terá despoletado a doença, Teresa não atribui culpa ao facto de ter sido vítima de bullying quando vivia na Argentina, ou de estar sempre a mudar de cidade por causa do trabalho dos pais, ou mesmo ao divórcio dos seus pais – foi “o factor genético e todos os outros factores externos que, juntos, deram origem à doença que varia em diferentes graus de intensidade. No meu caso, aconteceu no seu pior grau, a minha anorexia foi a mais agressiva de todas”. Teresa menciona o factor genético porque também o seu avô materno teve anorexia.
Logo na primeira página, o leitor é apresentado a “Ana”. Esta começa por ser a melhor amiga e conselheira de Teresa, mas acaba por se tornar na grande vilã da história. “Ana” é, na verdade, a personificação da anorexia. “Via uma entidade separada de mim. Não de uma forma esquizofrénica, mas aparecia como uma imagem na minha cabeça. Ela tinha voz, cara e corpo”, conta Teresa Procopiak.
“Ana” fez com que a modelo fosse hospitalizada e internada seis vezes. Durante os tratamentos evitava consumir calorias recorrendo a truques, por exemplo, no primeiro internamento, passava a manteiga pelo cabelo para não a comer.
Enquanto ainda estava doente, Teresa chegou a participar num casting para ser modelo de uma marca de roupa. Depois de ser escolhida, acabou por rejeitar a proposta porque “a doença é um trabalho a tempo inteiro. Não conseguia fazer outra coisa que não fosse dedicar-me a estar doente”, justifica.
Passaram dez anos desde o último internamento e a autora diz estar recuperada porque a cura, essa, “não existe”. Teresa Procopiak chegou a fazer outros trabalhos como modelo, mas optou por se afastar desse mundo “porque é muito voltado para o tamanho da nossa cintura”. “Eles estão a marimbar-se para a tua saúde. Quanto mais fininha for a tua cintura, melhor”, remata.
Hoje em dia, confessa ao PÚBLICO, tem uma alimentação saudável: “Porque faz bem, porque é bom para mim, sem restrições.” Encontrou o equilíbrio que almejou durante anos. “Espero que quem está a sofrer não precise de chegar ao ponto a que eu cheguei”, desabafa, acrescentando que é um “milagre” estar viva depois dos problemas de falência de órgãos que teve, fruto da doença.
Com este livro Teresa quer mostrar às vitimas de distúrbios alimentares, que “há muito mais vida do outro lado do espelho”, ou seja, “além do que cada um de nós vê”.