Ouçamos Josephine Foster agora, antes que parta novamente
A cantora norte-americana, um nome misterioso, mas sempre presente, da renovação da folk americana dos anos 2000, vem a Portugal para apresentar o seu novo álbum em Macedo de Cavaleiros, Espinho, Famalicão, Coimbra e Lisboa.
Tempos houve, em meados dos anos 2000, em que Josephine Foster foi considerada, ao lado de Devendra Banhart e Joanna Newsom, uma das figuras destacadas da então chamada free folk – era o tempo de All the leaves are gone. Tempos houve antes desses, em que a jovem Josephine Foster foi cantora em casamentos e funerais, e tempos houve, e eram os mesmos, em que Josephine Foster aplicou a sua voz abençoada por natureza a árias do repertório operático. Tempos houve em que passeava pelos pueblos do Colorado e se deixava fascinar pela música dos nativos pré-colombianos (memórias da sua infância transformadas em 2012 em Blood Rushing). Outros tempos chegaram em que transformou em canções a poesia de Emily Dickinson (Graphic as a Star, 2009) ou de García Llorca (Anda Jaleo, 2012).
Chegamos agora a este tempo e este é o tempo de Faithful Fairy Harmony, duplo álbum de folk e de country, de baladas rústicas, de assombrações, de torch songs e de canções sonhadoras, de anseios místicos e lamentos terrenos, disso tudo e nada disso exactamente – são canções feitas de matéria etérea, exactamente a mesma qualidade que reconhecemos na sua voz. Foi editado no ano passado e será apresentado em Portugal, a partir desta quinta-feira, em cinco datas. Primeiro, o Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros (21h30, 2€), seguindo-se depois o Auditório de Espinho (dia 29, 21h30, 8€), a Casa das Artes de Famalicão (dia 30, 23h, 3€), o Salão Brazil, em Coimbra (dia 31, 22h, 7€), e a Galeria Zé dos Bois, em Lisboa (dia 3 de Abril, 22h, 8€ em pré-venda, 10€ no próprio dia).
Nascida no Colorado, professora de canto em Chicago enquanto, paralelamente, dava voz a folk-rock psicadélico com os Born Heller, mais tarde emigrada para Granada e Cadiz – vive em Espanha com o marido, o guitarrista e seu colaborador Victor Herrero -, Josephine Foster nunca teve o destaque atingido pelos seus companheiros de percurso Devendra e Newsom, incluídos em 2004, tal como ela, na compilação Golden Apples of The Sun que revelou uma nova geração de renovadores ou recondutores folk americanos (chamaram-lhe a New Weird America e também lá ouvíamos Six Organs of Admittance, Espers, Scout Nibblet, Coco Rosie ou Antony).
O lugar que Josephine Foster construiu para si é de outra natureza. Tal como a sua música, Foster é uma presença que sobrevoa o nosso tempo, ligando-se a ele através dos discos que edita regularmente e que nos chegam como que desligados dos tumultos e ansiedades de uma era em que se vive rápido demais, de forma demasiado sôfrega. Pouco depois de se mudar para uma quinta nos arredores de Granada, dizia ao Ípsilon: “Quis viver num sítio onde pudesse estar algum tempo em isolamento, fora da cidade e sem outro ruído além do dos pássaros e do vento o dia todo”. Dois anos depois, já em Cadiz, afirmava: “Não estou interessada em ser uma cantautora - ‘isto sou eu ao longo dos anos e os meus desgostos de amor’. Quero um drama maior. É o mesmo que um encenador: não precisa de fazer sempre a mesma peça.” Faithful Fairy Harmony é a peça, obra vasta nesse movimento de sobrevoar os céus e sentir a textura da terra com voz, guitarra, piano, harmónica, harpa, violoncelo ou órgão, que nos traz agora. Ouçamos Josephine agora, antes que parta novamente.