Culatra, uma ilha a servir de modelo às energias renováveis na Europa
O aglomerado, que corre risco de desaparecer com subida do nível das águas do mar, foi escolhido pela Comunidade como exemplo para a necessidade da descarbonização
A Culatra foi seleccionada, juntamente com mais cinco ilhas do espaço comunitário, para levar à prática um projecto da aplicação das políticas de transição energética. Desde a mobilidade com barcos eléctricos até à dessalinização das águas, são muitas as ideias para tornar auto-suficiente a comunidade piscatória. O montante do financiamento, dizem os promotores, vai depender da capacidade dos investidores privados e parceiros institucionais em apresentarem candidaturas, viáveis, no âmbito do programa comunitário Portugal 2030.
A Universidade do Algarve (Ualg) lidera o projecto científico e está a estabelecer a rede que permitirá aplicar os novos conhecimentos sobre energia eólica e fotovoltaica. Pescadores e turistas esperam pela melhoria da qualidade de vida. A água potável só chegou à ilha em 2010 e o fornecimento de electricidade está sujeito a quebras de tensão nas alturas de maior consumo.
Com o objectivo de cumprir as metas da descarbonização, foi assinado nesta terça-feira o protocolo de cooperação entre o Secretariado Europeu para as Energias Limpas nas Ilhas (Clean Energy for EU Islands Secretariat) e os parceiros institucionais que se propõem levar a cabo o plano “Culatra 2030 – Comunidade Energética Sustentável”. De entre as mais de duas centenas de ilhas da Comunidade Europeia, foram seleccionadas seis para testar novos modelos de sustentabilidade. A Culatra, integrada na ria Formosa, tem a particularidade de se encontrar numa das zonas mais vulneráveis do Algarve por causa do aumento do nível das águas do mar.
O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR), Francisco Serra, defende que a ilha pode ser “exemplo de boas práticas, a replicar noutras partes do mundo”, sublinhando que existem “boas vontades” da parte do sector privado e entidades públicas para que isso venha a acontecer. Por seu lado, a Ualg comprometeu-se a apresentar até ao Verão o mapa das várias acções e obras a concretizar. Desde logo, a presidente da Associação de Moradores, Sílvia Padinha, aponta a necessidade de substituir o cabo submarino que transporta a electricidade para a ilha, que tem mais de duas dezenas de anos. “Apresenta alguns sinais de velhice”, denunciou. Neste sector prevêem-se também mudanças na comercialização pois até final do ano está prevista a aberta de concursos públicos para a concessão de distribuição de electricidade em Baixa Tensão (BT).
Sílvia Padinha reivindica ainda “apoios financeiros aos moradores para acompanhar as mudanças”, com a atribuição de subsídios para a colocação de painéis solares nas habitações. O investigador da Ualg, Jânio Monteiro, alerta para os impactos negativos: “Não queremos fazer nada que não possamos porque ali é uma zona de Parque Natural da Ria Formosa e temos de o respeitar”, disse. Para já, vai ser feito o levantamento da “situação energética” da ilha, não colocando de parte a hipótese de retomar o velho projecto da dessalinização da água e criar pontos de carregamento para barcos e outros meios de mobilidade.