Exército argelino pede afastamento de Bouteflika e precipita o fim de uma era

Desde o início do mês que a Argélia é palco de manifestações maciças contra a manutenção do Presidente no cargo que detém há mais de duas décadas.

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Bouteflika (esquerda) ao lado de Salah durante uma cerimónia militar RAMZI BOUDINA / Reuters

O chefe do Estado-Maior do Exército argelino, Ahmed Gaed Salah, apresentou um pedido para que o Presidente, Abdelaziz Bouteflika, seja afastado do cargo por incapacidade. O posicionamento dos militares era visto como crucial para o futuro político do país, a braços com grandes manifestações desde o início do mês que pedem a saída do Presidente.

Salah, um próximo de Bouteflika, citou, num discurso televisivo, a crise política vivida no país desde que o Presidente anunciou a intenção de se candidatar a um quinto mandato para o cargo que ocupa há mais de 20 anos, embora não seja visto em público desde 2014 e tenha as suas capacidades muito diminuídas desde que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 2012, tendo perdido a capacidade de falar.

“Tornou-se necessário, até imperativo, adoptar uma solução para sair da crise, que responda às reivindicações legítimas do povo argelino e que garanta o respeito pelas disposições da Constituição e a manutenção da soberania do Estado”, declarou o chefe máximo das Forças Armadas, citado pelo Le Monde.

Assim que Salah terminou o seu discurso, as ruas de Argel encheram-se de carros a buzinar, em sinal de celebração, diz a imprensa local. Desde o início de Março, quando Bouteflika anunciou a recandidatura a um quinto mandato presidencial, que milhares de pessoas têm participado em manifestações inéditas contra o Presidente. Há duas semanas, Bouteflika aceitou não concorrer a um novo mandato, mas propôs estender o actual até que uma nova Constituição fosse aprovada – algo rejeitado pelos manifestantes como um esquema para se manter no poder durante mais tempo.

O afastamento de Bouteflika é requerido ao abrigo do artigo 102 da Constituição, que prevê a saída do chefe de Estado nas situações em que, “por causa de doença grave e duradoura, esteja impedido de exercer as suas funções”. Bouteflika, de 82 anos, sofreu em 2013 um AVC que o deixou fisicamente muito debilitado.

Nas últimas semanas, a pressão para que Bouteflika saísse de cena só ganhou dimensão, com várias manifestações de apoio públicas aos protestos de aliados do Presidente. A grande dúvida era o posicionamento do Exército, uma das instituições mais poderosas na Argélia, em relação à manutenção de Bouteflika no poder.

A resposta foi finalmente dada, com o pedido formal de destituição do Presidente, que agora deverá ser avaliado pelo Conselho Constitucional e depois encaminhado para o Parlamento, que deverá aprovar a demissão por uma maioria de dois terços.

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