Não soubemos ser slaves para ti, minha queen Madonna!

Não te tratámos como a verdadeira rainha, como a vida animada de uma deusa na terra, mas sabes que não estamos acostumados a gente tão selecta.

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Adeus, Princesa Madonna! Reuters/Carlo Allegri

Adeus, Princesa! Não sabes como lamento a tua partida. E tudo por causa de uma embirração do tio Basílio que não te deixa levares o cavalo para onde quiseres. Já te tinham tentado lixar a vida bem lixadinha com a história vergonhosa do estacionamento nas Janelas Verdes! Imagine-se! Nem que fosse preciso tirar o Marcelo de Belém, o Costa de S. Bento ou os deputados da Assembleia, tu devias ter lugares onde aparcar as tuas bombas magníficas em qualquer sítio de Lisboa. De Lisboa só, não. Do país!

Estes políticos incompetentes não percebem nada: os teus bólides espalhados de norte a sul contribuíam para os turistas acharem – coitadinhos – que somos um país rico e um ou outro até, mais desatento, acharia que temos marcas “tugas”, de produção nacional, assim se contrariando a ideia de que só exportamos sol e turismo. Afinal, temos indústria e da boa – daquela que cria valor acrescentado e que nos permite não ficar dependente apenas de um sector económico como nenhum Estado inteligente fica. E nós somos todos para lá de inteligentes!

Tanto assim foi que te estendemos a red carpet, foste assunto em todas as televisões, em horário nobre, desde o dia em que decidiste conceder-nos a magna honra de te mudares, com as tuas crias, para o nosso belo país. Será que a Cristina não te convidou? Desconfia do assistente que tens, pois a Cristininha não dorme em serviço. Ou será que o Marcelo te devia ter condecorado já? Que honra tamanha ter uma rainha assim, já que o mais aproximado é a D. Isabel de Herédia que, não me leve a mal a Sra. Duquesa, mas nem cá dentro é conhecida, excepto nas associações monárquicas.

Cada post teu no instagram, cada instastory, cada foto ao lado da irmã da grande Amália, cada comentário sobre como isto tudo é very typical e como sabemos acolher tão bem. Nem tão-pouco deixaste de fazer mais pela nossa gastronomia que paletes de estrelas Michelin, pois não te cansaste de elogiar o nosso chouriço assado na brasa, o caldo verde, o peixinho, a tora no dito caldo. Qual Avillez, Kiko ou coisa que o valha!

E a nossa música? Estamos-te em dívida eterna, pois já anunciaste que o teu próximo álbum terá montes de influência da típica música portuguesa – deve ser o fado, supõe-se –, de modo que talvez venha a ser uma coisa parecida com o Conan Osíris, que mistura o fado, o canto cigano, os aromas persas e a alta tecnologia dos telemóveis com a arte de latoaria pátria, de açaimes para animais. Agora, apelo-te, de joelhos, que este teu disco não tome um rumo diverso e que seja o teu último tributo a Portugal!

Sei que não o merecemos, que não te tratámos como a verdadeira rainha, como a vida animada de uma deusa na terra, mas sabes que não estamos acostumados a gente tão selecta. Ainda temos muitas maneiras a afinar e até te digo que estranho muito, pois estamos tão habituados a comer e calar ou a engolir o que nos servem (sobretudo os políticos), que não deixa de ser irónico que tenha sido um capricho sem sentido que te fez “saltar a tampa”.

Olha, querida Madonna e minha rainha, ao menos leva o equídeo contigo, pois ele já deve estar acostumado à tua high life e à tua griffe, pelo que se o bicho fica por cá, é gajo de se tornar num ser com ideias de que as pessoas são todas iguais e que a lei é a mesma para todos. Imagina! Essas tretas que os pobres nos querem fazer crer…

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