Floresta como driver da economia portuguesa do futuro

Portugal tem ainda um potencial muito elevado de desenvolvimento da cadeia de valor florestal por explorar.

Hoje celebra-se o Dia Internacional das Florestas e, muito provavelmente, desde outubro de 2017 nunca a floresta teve tanto destaque nos media nacionais.

Esta é talvez a altura de tentarmos perceber de que forma vemos o futuro da floresta portuguesa e qual o seu papel para o futuro do país. Podemos ambicionar atingir 10% das exportações de bens, partindo das atuais 9%, que representaram cerca de 5000 milhões de euros em 2018? A territórios e paisagens produtivos, atrativos e resilientes? Conseguimos gerar valor e remunerar os serviços dos ecossistemas florestais, como a regulação do ciclo da água e a conservação da natureza e biodiversidade? Conseguimos contribuir de forma determinante para a criação de emprego e riqueza nas regiões de baixa densidade populacional?

A pertinência destas questões prende-se com o facto de Portugal ter ainda um potencial muito elevado de desenvolvimento da cadeia de valor florestal por explorar. O pleno aproveitamento do potencial da floresta portuguesa, no quadro de uma bioeconomia circular sustentável, constitui uma oportunidade extraordinária para a substituição de um número crescente de produtos fabricados a partir de matérias-primas não renováveis por produtos feitos a partir de recursos renováveis. A madeira, enquanto material de base endógena, renovável, reutilizável e reciclável, pode ser o substituto natural de muitos produtos como o aço, petróleo, plástico, têxteis, etc., fornecendo uma infinidade de soluções para inúmeras aplicações.

Porém, neste âmbito, deve ser fruto de uma particular atenção a área de pinheiro bravo em Portugal, que apresenta uma preocupante tendência de redução e de abastecimento da cadeia de valor, sendo necessário desenvolver políticas específicas para a sua recuperação. Para o aproveitamento deste imenso potencial por explorar, são necessárias várias condições:

  • Políticas consistentes, ajustadas aos seus destinatários e operacionalizadas em programas estáveis de longo prazo que resolvam os problemas que ameaçam as regiões do Norte e Centro de Portugal, assegurando a manutenção e sustentabilidade da floresta e dos seus recursos;
  • Uma abordagem disruptiva para o desenvolvimento de novos modelos de gestão florestal/territorial que reduzam o risco e viabilizem o investimento e a rentabilidade florestal em áreas de minifúndio;
  • Uma estratégia clara de promoção da bioeconomia circular, por exemplo, no domínio das cidades sustentáveis, com a construção sustentável e substituição de materiais como aço, alumínio e betão por madeira e painéis derivados de madeira;

É verdade que as tragédias de 2017 foram catalisadoras de muitas alterações já em curso na área florestal, que necessitarão de tempo para gerar efeitos. Contudo, o foco tem estado na gestão de risco, o que é importante mas também manifestamente insuficiente. A futura PAC 2021-2027 representa “a” oportunidade para um financiamento reforçado, específico e dirigido a estas políticas e abordagens, mas devemos ser mais ambiciosos. Nesta matéria, o envolvimento do Orçamento do Estado tem que ser também reforçado de forma clara.

Só com uma aposta clara e coesa na floresta, com uma combinação de investimentos públicos e privados, vamos aumentar a nossa disponibilidade de água, reforçar as economias rurais do interior, aumentar as exportações e mitigar as alterações climáticas. Dificilmente existirá investimento tão multi-win-win.

Os espaços florestais são o maior capital natural que temos e oferecem oportunidades diversas e crescentes para o desenvolvimento da bioeconomia circular sustentável. Aproveitemos esta vantagem competitiva para que os recursos florestais sejam o driver da economia portuguesa do futuro.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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