Manual de instruções para pais de crianças pouco banais

Uma Criança como Jake é delicado e justo, com uma sensibilidade contemporânea, mas tão delicado e tão justo que nunca ultrapassa uma dimensão “pedagógica”.

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Baseado numa peça teatral, Uma Criança como Jake é a história de um casal (Claire Danes e Jim Parsons) a aprender a lidar com o facto de o filho, criança ainda muito jovem, revelar tendências de “variante de género” (ou gender-expansive, como se diz no filme), e preferir roupas e brinquedos ditos “de menina” às actividades ditas “de rapaz”.

É tudo muito delicado e justo, com uma sensibilidade contemporânea (nem há dez anos se faria um filme assim), mas tão delicado e tão justo que nunca se ultrapassa uma dimensão “pedagógica”, com uma exemplaridade de manual de auto-ajuda para pais que se encontrem em circunstâncias semelhantes. O que quer dizer que o cinema e mesmo a dramaturgia são aqui relegados para segundo plano face à ilustração da “mensagem”: se manter o miúdo quase sempre em off (o centro são os pais, a relação entre eles, e entre eles e os amigos ou a professora da escola) é uma opção inteligente, daí resulta também que o filme se resuma a um conjunto de diálogos, conversation pieces, filmados sem imaginação nem vida, campos-contracampos por onde não passa nenhuma tensão nem mesmo nos momentos mais dramáticos.

Ao mesmo tempo, o olhar sobre aquela intimidade é limpo de asperezas, como um retrato de um poster couple, de um casal para um poster de uma classe média “normal” e minimamente sofisticada (ele, psicólogo, ela advogada) — o que condiz com a vocação pedagógica do filme, mas por isso mesmo aí o circunscreve radicalmente.

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