Quem não vê e quem não ouve também tem direito à beleza, acredita a L’Oréal Paris. Por isso, juntou-se a algumas associações que trabalham diariamente com cegos e surdos para criar um programa de beleza “diversa, acessível e inclusiva”, a que chamou “Beleza para todos”, que é apresentado nesta quarta-feira na sede do Instituto Nacional para a Reabilitação, em Lisboa, com a presença da secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes.
O objectivo deste programa é proporcionar infra-estruturas para estas pessoas desempenharem a sua higiene diária autonomamente, mas também sensibilizar a sociedade para “o direito ao acesso à informação” de quem tem necessidades especiais, declara a marca em comunicado. “Havia um determinado público que não tinha o mesmo acesso aos nossos produtos”, clarifica Tiago Melo, director de marketing da L’Oréal ao PÚBLICO.
Para ajudar a “mudar o mundo” dessas pessoas, a marca e os parceiros – o Instituto Nacional para a Reabilitação, Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal, Federação Portuguesa das Associações de Surdos, Associação Portuguesa de Deficientes – realizaram um estudo informal, focado nas conversas com deficientes visuais e auditivos. Tiago Melo conta que nos diálogos procuraram perceber as dificuldades com “rotinas de beleza, utilização e aquisição” dos produtos.
O responsável da marca revela que para os invisuais, o “processo de compra não é em si, complicado, já que fazem mais compras online e existem marcas que etiquetam os produtos”. Na verdade, os maiores obstáculos são não se conseguirem “ver ao espelho e perceber exactamente como devem cuidar da sua pele, do cabelo e como devem aplicar os produtos em si”, informa.
Nesse sentido, a L’Oréal Paris desenvolveu tutoriais “só com voz” através de uma parceria com invisuais que procurou “perceber se [estes] conseguiam reproduzir o que estavam a ouvir”. Cátia Monteiro participou na experiência e considera que os áudios da marca “estão muito bem-feitos” e são muito “descritivos”. A iniciativa da L'Oréal mudou a sua vida e as suas rotinas, mas para a invisual “é muito mais do que beleza para todos, está muito ligada à confiança [dos cegos] e à auto-estima”, confessa ao PÚBLICO, acrescentando que a sua principal dificuldade é a maquilhagem, em particular a máscara de pestanas por ser “muito minuciosa”.
Depois de Lisboa, o Porto
A marca também fez uma adaptação das publicidades televisivas, onde a linguagem de “anúncios rápidos” foi substituída por uma “mais pausada”. Para os casos de quem não ouve, foram adicionadas legendas de forma a permitir que percebam “o que o produto tem e quais os seus resultados”, explica o director de marketing.
Desde há dois anos que a marca tem um chat adaptado a surdos, onde facilita o acesso à informação, ao esclarecer as dúvidas sobre os produtos, ingredientes e forma de aplicação. A L'Oréal vai começar a distribuir produtos com etiquetas em Braille, para quem não vê.
As mudanças na política de inclusão começaram há dois anos, altura em que a marca de origem francesa se apercebeu das necessidades existentes. Ainda assim, Tiago Melo esclarece que “este não é um processo estanque e será sempre revisto para melhorar”.
Também está prevista a realização trimestral de um conjunto de workshops de beleza gratuitos para invisuais, onde os profissionais da marca, “devidamente formados para o efeito”, se vão focar nos cuidados de rosto e limpeza, no tratamento da pele, na maquilhagem e no styling do cabelo. “Numa primeira fase, os workshops são só para pessoas com deficiência visual visto que são o público mais penalizado no que respeita ao acesso à informação. Numa segunda fase, iremos desenvolver workshops para pessoas com deficiência auditiva”, informa o director de marketing.
Embora ainda não seja possível apontar quando será a primeira formação, esta ocorrerá durante o mês de Maio na Academia da L’Oréal em Miraflores, Alfragide. Tiago Melo revela que o objectivo é “abranger mais pessoas”, pelo que os cursos irão percorrer todo o país. O Porto será a próxima paragem.
A L'Oréal Paris defende uma política de diversidade e inclusão social, que se estende à igualdade de género, multiculturalidade e inclusão de quem é portador de necessidades especiais, informa a marca.
Texto editado por Bárbara Wong