Menos casos de tuberculose em Portugal, mas ainda acima da média europeia
A incidência em Portugal é de 17,5 casos por cada cem mil habitantes, enquanto na UE não vai além dos 10,7 por cada cem mil. “Ainda tínhamos e temos uma percentagem significativa de pessoas mais velhas com a infecção latente", explica DGS.
O cenário não se tem alterado nos últimos anos e 2017 não foi excepção: a incidência da tuberculose continua a diminuir na Europa. Em Portugal houve poucas oscilações. O país ficou-se em 2017 por 17,5 casos por cada 100 mil habitantes, ainda assim, bem acima da média da União Europeia (UE).
Os dados constam do mais recente relatório do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Europa, e referem-se ao ano de 2017. Em toda a região considerada pela OMS existiram, naquele ano, mais de 283 mil casos, uma média de 30,7 por cada 100 mil habitantes. Se considerarmos apenas a UE/União Económica Europeia (o que deixa de fora países como o Quirguistão, com uma incidência de 127,3 por cada cem mil habitantes), os números são bem mais animadores: 10,7 casos por cada 100 mil habitantes. Apenas o Liechtenstein não enviou qualquer informação.
É neste último grupo que Portugal está integrado. Apesar de o número de casos ser relativamente pequeno – 1800 – a média nacional baixou ligeiramente em relação a 2016: de cerca de 18 por cada 100 mil habitantes, passou-se para 17,5/100 mil. No universo da UE/UEE, os únicos países que aparecem com uma incidência superior à de Portugal são a Roménia (66,2), a Lituânia (48,7), a Letónia (28,3) e a Bulgária (20,6).
Também o número estimado de mortes manteve-se estável em Portugal: duas por cada 100 mil habitantes, regista o relatório.
Isabel Carvalho, que dirige o Programa Nacional para a Tuberculose, da Direcção-Geral de Saúde, salienta que Portugal tem “um programa de combate à tuberculose eficaz desde, pelo menos, 2010”, mas explica que o país tem características que justificam o facto de não ter alcançado a média da UE. “Ainda tínhamos e temos uma percentagem significativa de pessoas mais velhas com a infecção latente, apesar de ir começando a diminuir. São pais e avós, do tempo dos sanatórios, que correm o risco de desenvolver tuberculose. A mortalidade também está associada a isto”, diz.
O número de 1800 casos – contra 520 na Suécia ou 505 na República Checa, países com uma população de dimensão idêntica à nossa – pode, contudo, diminuir ainda mais. “Há vários projectos montados para que nos aproximemos da realidade europeia”, garante a pneumologista que está à frente do combate à doença em Portugal. Programas que passam por intervenções junto dos grupos a que a doença aparece mais vezes associada – como portadores de VIH e toxicodependentes. De resto, a tuberculose associada a portadores de VIH também apresenta em Portugal uma taxa superior à da média da UE: 11,4% dos casos, quando a média da UE é de 3,9%. Outro grupo de risco é o dos reclusos, e aqui é preciso uma intervenção mais eficaz, porque a disseminação pode ocorrer de forma invulgarmente rápida. “Basta haver um caso para se disseminar. Nestas situações é essencial rastrear rapidamente.”
O rastreio aparece como condição essencial para um melhor controlo da doença, sustenta a directora do Programa Nacional para a Tuberculose. “Quando aparece um caso, é essencial o rastreio de todos os que estão envolvidos e expostos. Já se faz, mas o rastreio não é obrigatório.”
"Vai sempre existir"
Rastrear, monitorizar e estar informado são apontados pela pneumologista como meios para que Portugal se aproxime da média dos parceiros europeus. “Precisamos de aumentar a capacidade de resposta e melhorar a literacia das pessoas. É preciso que elas percebam, por exemplo, que os CDP [Centros de Diagnóstico Pneumológico] têm a porta aberta. As pessoas não precisam de ir ao médico de família pedir uma consulta, podem dirigir-se lá directamente. E toda a comunidade beneficia com isto.”
De acordo com o relatório sobre a tuberculose, entre 2016 e 2017 Portugal não melhorou as estimativas referentes à incidência da tuberculose em crianças (o número subiu ligeiramente, de 13,2 para 14,2 casos por cem mil habitantes) nem nas mulheres (passou-se de 13,4 para 13,6 casos por cem mil habitantes). Em ambas as situações, um dos factores preponderantes poderá estar ligado com a população migrante, que não tendo nascido em Portugal, reside no território. Segundo os dados que constam do documento, 19,5% dos casos de tuberculose registados em Portugal diziam respeito a cidadãos nascidos fora do país. “Essa influência vai notar-se cada vez, porque temos uma população migrante – nós próprios também o somos e influenciamos os dados dos países onde residimos. Lisboa aparece como o local de maior incidência da tuberculose muito à custa das pessoas provenientes de outros países”, diz Isabel Carvalho.
Apesar de a tuberculose estar a diminuir na Europa (entre 2008 e 2017 o número de casos baixou em média 4,7% ao ano), ela “ainda constitui uma ameaça de saúde pública na maior parte dos países e áreas da região e não deve ser subestimada”, lê-se no relatório anual agora divulgado. Os números são optimistas, mas apontam também para a dificuldade da OMS em atingir os objectivos a que se propôs no combate à doença: diminuir as mortes associadas à tuberculose em 95% e o número de incidências em 90% até 2035. “A tuberculose vai sempre existir, porque é uma doença global. A OMS tem objectivos muito difíceis”, defende a pneumologista portuguesa.