Quem quer negociar com Trump e May?
Trump e May terão um lugar na história. Mas não aquele que pretendiam.
Michael Cohen, o antigo advogado de Donald Trump, e Paul Manafort, ex-director de campanha, foram condenados a penas de prisão. O primeiro — que fez pagamentos para silenciar mulheres com quem Trump teve relações sexuais — foi sentenciado por fraude bancária e o segundo — na sequência das suspeitas de interferências russas nas eleições americanas — pelo crime de conspiração, mas também por fraude bancária e fuga aos impostos. Ironia das ironias: um ex-director de campanha de um Presidente eleito nos EUA ter sido condenado por conspiração. O cerco aperta-se e diz muito sobre o universo Trump.
Na véspera da cimeira de Hanói, a embaixada da Coreia do Norte em Madrid foi assaltada e suspeita-se que pelo menos dois dos assaltantes tenham ligações à CIA e que procurassem informações sobre o antigo embaixador norte-coreano em Espanha (um dos principais negociadores na cimeira do Vietname). Não espanta, pois, que a cimeira de Hanói tenha sido um falhanço desnecessário. Kim disse que não faria mais testes nem desenvolveria mais armas, mas não garantiu que eliminaria as que já possui.
Kim nunca eliminará o seu arsenal em troca de uma promessa vaga de desenvolvimento económico. Caso o fizesse, perderia o trunfo da sua ameaça.
Depois do fracasso, nada mais natural do que a prova de força de Kim, ao iniciar a reconstrução da base onde se efectuam testes de lançamento de satélites. O melhor que Trump poderia conseguir, um acordo histórico de desnuclearização, seria algo semelhante ao que Barack Obama conseguiu com o acordo com o Irão, que o próprio Presidente norte-americano rasgou contra tudo e contra todos os conselhos. Trump regressou de mãos vazias, Kim terá assegurado um lugar no mapa geoestratégico. Nada mau para um pária. O fiasco diz muito sobre a aptidão de Trump para negociar tudo o que não seja imobiliário.
Só faltava mesmo que Trump, como ontem fez, dissesse que o “Brexit” é o que é porque Theresa May não seguiu os seus conselhos acerca de como negociar. Se os dois têm algo em comum é a desfaçatez com que acumulam fiascos negociais. Afinal, quem é que ainda não percebeu que nem um nem outro são os melhores oráculos numa negociação? Quer a desnuclearização da Coreia do Norte, quer o “Brexit” não se resolvem. Adiam-se! Trump e May terão um lugar na história. Mas não aquele que pretendiam.